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Cotidiano

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Isoladas, famílias de Itaoca vivem sem água e luz

Duas semanas após temporal, moradores tentam reerguer casas

Dos 24 mortos na tragédia, 21 pessoas estavam no bairro Guarda-Mão, hoje tomado por pedras

JULIANA COISSI ENVIADA ESPECIAL A ITAOCA (SP)

" Minha filha conseguiu segurar o celular. Agora usa o carregador de amigas nos bairros vizinhosMárcia de Oliveira, 39moradora de Itaoca, sobre a falta de telefonia fixa na cidade após o temporal há duas semanas

Duas semanas depois do temporal que devastou Itaoca, no sul do Estado de São Paulo, ainda há moradores isolados, que precisam economizar água potável e tomam banho no rio.

Há famílias praticamente incomunicáveis, já que a rede fixa de telefonia não foi religada e a maioria perdeu o celular nas águas.

"Minha filha conseguiu segurar o celular. Agora usa o carregador de amigas nos bairros vizinhos", diz a professora Márcia de Oliveira, 39.

A família do cobrador Santino Martins, 36, que vive no bairro de Gurutuba, é uma que está sem água nem luz em casa. Para cozinhar, eles usam a água potável doada.

Na noite do temporal, Martins ficou preso com familiares dentro da casa do vizinho. A água invadiu o imóvel e chegou à altura do queixo.

Ele conseguiu erguer a mulher e a filha até a viga no teto e se segurar. Mas a prima Ziza Dantas Martins, 44, não conseguiu se salvar. Antes de ser levada pela água, ela se despediu do marido: "Se cuida, meu amor, se cuida!".

No Guarda-Mão, o bairro mais afetado, uma caminhada é um exercício de imaginação. É preciso ouvir a descrição de uma moradora e pensar que na parte alta do bairro, próxima ao morro, havia sete casas, duas pontes, árvores frondosas, uma estrada e um cercado para o gado.

O cenário descrito desapareceu. No lugar, ficaram apenas o córrego e pedras do tamanho de um carro.

Junto com as casas e o gado arrastados pela enxurrada, desapareceram quatro famílias inteiras. Dos 24 mortos na tragédia, 21 pessoas estavam em Guarda-Mão, hoje tomado por pedras.

Sem perceber, o prefeito Rafael Rodrigues Camargo (PSD) contabiliza a principal perda. "Nossa cidade tem 3.329 habitantes". E logo em seguida corrige: "Quer dizer, agora perdemos 24".

Itaoca está a 344 km da capital, na divisa com o Paraná.

Galhos e destroços encontrados às margens do rio Palmital e de córregos dão a impressão de que Itaoca por pouco não sumiu do mapa. Cem casas ficaram inundadas, 35 delas completa ou parcialmente destruídas.

RECOMEÇO

No centro e em três bairros rurais visitados pela Folha nos últimos dois dias, moradores tentam reerguer o que restou. Postes da rede elétrica varridos pela água voltaram ao lugar. Equipes da Sabesp reativavam tubulações de água, e homens com caminhões-pipa lavavam ruas.

A rede elétrica e a água foram reativadas no centro quatro dias depois do temporal, mas moradores reclamam de falhas constantes.

Na fachada das casas próximas ao rio, a marca da lama denuncia o estrago. O barro tingiu as paredes até a altura da cabeça de um adulto.

Na outra margem do rio, parte do centro lembra uma cidade fantasma. Restos de telhado e parede atestam que lá haviam casas. De algumas, só restou a base de concreto.

Dono de uma mercearia, Vandir Martins de Lima, 55, precisou escalar prateleiras para não se afogar. Todos os alimentos e bebidas se perderam, causando um prejuízo de R$ 400 mil. "O valor material é o de menos. Pelo menos estou vivo", diz.


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