Folha de S.Paulo

Análise

Falta debate sobre a melhoria do ensino nas regiões rurais

PODE SER MELHOR TER UM PROFESSOR BOM COM MUITOS ALUNOS DO QUE VÁRIOS DOCENTES PIORES COM TURMAS MENORES

FÁBIO TAKAHASHI DE SÃO PAULO

Do ponto de vista do conforto para a criança ou adolescente, não há dúvidas de que seja melhor estudar perto de casa. Mas do ponto de vista de resultados educacionais, não está claro qual é o impacto do fechamento dos colégios no campo.

Os dados oficiais mostram que na área rural a proporção de crianças matriculadas no ensino fundamental cresceu de 2001 para 2012; o analfabetismo caiu no período.

As informações foram tabuladas pela ONG Todos pela Educação, com base no Censo Escolar, levantado pelo Ministério da Educação.

Alguns números na zona rural: a proporção de jovens de 16 anos que terminaram o fundamental subiu de 25% para 54%. O analfabetismo caiu de 29% para 21%.

Os números, porém, são insuficientes para se identificar o impacto do fechamento de escolas na qualidade do ensino. A melhoria poderia ter sido maior se mantido o número de colégios? Ou é melhor ter menos escolas, mas com estrutura melhor?

A segunda opção já foi levantada, ainda que indiretamente, em estudos que analisaram o tamanho das turmas no ensino fundamental.

Em alguns casos, como numa pesquisa na Carolina do Norte (EUA), verificou-se que pode ser melhor ter um professor bom com muitos alunos do que vários docentes piores com turmas menores.

De qualquer forma, com menos ou mais escolas, os dados mostram ser necessário um debate --e ações-- para a melhoria do ensino no campo no Brasil, que está em situação ainda pior do que a educação em áreas urbanas. Exemplo: jovens de 18 a 29 anos na zona rural estudam, em média, por 8 anos; os da área urbana, por 10 anos.

É simbólico que Fernando Haddad (PT), após mais de seis anos à frente do Ministério da Educação, tenha dito na saída da pasta, em 2012, que o ensino no campo foi o ponto mais fraco da sua gestão.

E que o governo federal, somente dois anos depois, tenha conseguido aprovar lei para melhorar a modalidade de ensino no país.