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Análise
Ex-subversivo, carnavalesco agora dita a regra
Com 'alegorias humanas' e efeitos visuais, Paulo Barros, que criticava a suposta caretice dos jurados, tornou-se a norma
Se a Unidos da Tijuca realizasse há dez anos o desfile que apresentou na última segunda-feira, talvez não ficasse nem entre as seis primeiras colocadas.
Em 2004, Paulo Barros surgiu do nada com as "alegorias humanas", o inesquecível carro do DNA e sacudiu a mesmice ditada pelo rigor de Imperatriz Leopoldinense e Beija-Flor. Foi vice-campeão.
O primeiro título só viria após seis anos, período em que o carnavalesco esbravejou contra a suposta caretice dos jurados.
Pois agora Barros não precisa mais investir contra as normas. Ele é a norma.
Seu estilo foi tão assimilado que já lhe valeu três títulos em cinco anos.
É um estilo que reflete como os desfiles de escolas de samba estão sendo encarados hoje: uma sucessão de efeitos visuais, em que as alegorias e fantasias procuram ter valor em si e ser facilmente reconhecidas pelo público, sem se somarem numa história.
Para Barros, todo enredo é apenas pretexto. Ayrton Senna serviu para ele brincar com a iconografia da Fórmula 1 e, como sempre faz, com emblemas da cultura pop --desta vez, Papa-Léguas, The Flash, Penélope Charmosa etc.
Esses recursos já foram subversivos; hoje são repetitivos. A Unidos da Tijuca de 2014 foi inferior às das vitórias de 2010 e 2012. E muito inferior à do vice de 2004. Mas agora está no topo do cânone.
Mesmo num ano tão pouco inspirado, ganhou quatro notas 10 em enredo e outras quatro em alegorias. Pareceu a Beija-Flor de anos atrás.
E ainda é preciso registrar: o samba da Tijuca era o pior dos 12 do Grupo Especial. Prova de como perdeu importância o que antes, junto com a bateria, era o fundamental.
Na contramão da campeã, a Portela fez um carnaval que, fosse 30 anos atrás, teria lhe dado o título. Apequenou-se nas últimas décadas e agora vibra com um terceiro lugar.