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'Não quero assustar passageiros', disse piloto
Áudio da conversa entre tripulação de avião e torre de Brasília mostra que comandante de voo evitou manobras bruscas
Ambulâncias e bombeiros foram acionados; só não foi pior por causa da perícia do piloto, diz passageiro
Com tom de voz calmo, o comandante do voo da Avianca evitou fazer manobras bruscas com o avião, antes do pouso, de modo a não assustar os 44 passageiros.
É o que revela o áudio da conversa entre tripulação e torre de controle de Brasília obtido pela Folha.
O comandante Verly (a reportagem não obteve o nome completo dos tripulantes) declarou emergência ao perceber que o trem de pouso dianteiro não havia baixado.
O trem é acionado por meio de uma alavanca no painel. Assim que o equipamento baixa e trava, a tripulação escuta o som característico e luzes se acendem no painel.
O problema é que as luzes do trem de pouso não acenderam, o que deu margem a duas possibilidades: falha no fusível da lâmpada ou, de fato, no próprio trem de pouso.
Uma das saídas é baixar a altitude do avião para que a torre de Brasília avistasse, com binóculo, se o trem de pouso estava baixado ou não --a "passagem baixa".
Ocorre que isso não basta para o equipamento estar pronto para aterrissagem: ele precisa estar também travado, e a "passagem baixa" não permitiria tirar essa dúvida.
A manobra traria ainda outro transtorno, disse o comandante: "Eu não quero assustar os passageiros com passagem baixa". Diante da impossibilidade de saber o que causou a pane, ele pediu à torre "apoio de solo, bombeiros e ambulâncias".
O avião então sobrevoou Brasília para queimar combustível e pousar com menos peso. O pouso do voo O6 6393 foi feito pelo copiloto, Jair.
CALMA
Um comandante da Avianca disse que pilotos são treinados constantemente em simuladores para situações de emergência. Daí a calma demonstrada pela tripulação.
O pouso bem-sucedido significa que todos os procedimentos de emergência foram seguidos corretamente, diz.
A funcionária pública Marcela Berte, 28, disse ao jornal "Correio Braziliense" que o piloto relatou a falha aos passageiros. "O piloto avisou que não conseguia ter certeza se o trem de pouso dianteiro funcionava. Avisou que faria um procedimento de emergência para evitar o pior."
Segundo ela, o pior momento foi o pouso.
"O avião foi para frente, houve um impacto muito forte e o peito do avião foi ralando no chão até parar. Pela janela, vimos bombeiros jogando espuma contra incêndio. Percebi muitos passageiros nervosos. Tivemos que sair rápido, sem pegar bagagens."
O engenheiro Roque Marinato, 70, passageiro do voo, afirmou à Folha que o acidente "só não foi pior por causa da perícia do piloto".
O último pouso de barriga de um avião comercial no país ocorreu em 2010, com um Embraer da Passaredo, em Vitória da Conquista (BA).