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São Paulo em 10 assaltos

Relatos de vítimas de roubo mostram o atual cenário do crime na cidade de São Paulo, onde ricos e pobres, jovens e idosos são assaltados sem distinção

FABRÍCIO LOBEL HELOISA BRENHA DE SÃO PAULO

Na escalada de roubos no Estado de São Paulo, a capital protagoniza sozinha 52% das ocorrências.

A Folha ouviu relatos de pessoas que foram assaltadas nos dez distritos policiais da cidade com mais registros desse tipo de crime em fevereiro.

De professores a estudantes, de auxiliares de limpeza a desembargadores, as vítimas são assaltadas na rua, dentro do trabalho e até na porta de escolas. As abordagens acontecem a qualquer hora, seja às 10h, seja à meia-noite.

Alguns dos entrevistados pediram para ter seus nomes preservados com medo de represálias ou de se tornarem alvo de assaltos novamente.
Numa cidade que teve mais de 22,7 mil roubos em dois meses, confira a seguir as histórias por trás dos números.

1º LUGAR

S.G., 70, desembargador aposentado
Tinha ido à minha agência bancária, na praça da Sé, e já estava voltando para casa. Nem vi de onde veio o golpe, só caí de cara no chão.
Eram três "trombadões", me derrubaram para me assaltar no susto. Mexeram nos meus bolsos e levaram minha carteira e mais R$ 2.000 que havia tirado para despesas no fim de semana. Com a queda, rompi um ligamento na perna e tive de fazer dois meses de fisioterapia.

2º LUGAR
CAMPO LIMPO
Joel da Cunha, 39, taxista
No mês passado, eu estava parando na casa de uma passageira e não vi que uma moto com dois homens se aproximou. O garupa anunciou o assalto quando a cliente ainda estava no carro. Levaram R$ 200 meus, nossos celulares e a bolsa da passageira. Isso eram umas 22h e a rua estava deserta. Já fui assaltado cinco vezes no bairro. Perdi o carro uma vez. Quando a polícia o encontrou, estava sem painel e rádio.

3º LUGAR
SANTA IFIGÊNIA
Jamilson Ludgero da Silva, 44, eletricista
Eram umas 15h, tinha tirado R$ 1.800 para pagar umas contas. Antes de sair da agência, olhei através do vidro e não vi ninguém. Caminhei dez passos fora da agência, e três rapazes correram na minha direção.Um foi para a esquina, para avisar se viesse polícia. Outro me conteve, e outro me roubou. Depois, correram. Troquei de roupa e percorri o bairro. Encontrei os três e avisei um policial. Ele me disse que não podia fazer nada: eu não tinha feito o boletim de ocorrência.

4º LUGAR
CAPÃO REDONDO
Felipe Andrade, 18, atendente de pizzaria
Já estávamos perto de fechar a pizzaria, numa quinta-feira, quando percebi que uma moto começou a passar várias vezes em frente à loja. Enquanto os nossos motoboys estavam ali nada aconteceu. Mas assim que saíram para fazer entregas, as duas motos chegaram e desceram dois homens com capacete e com a mão debaixo da blusa. Não quis pagar para ver se era arma. Entreguei o dinheiro do dia, uns R$ 200 e os celulares dos outros dois funcionários que estavam comigo.

5º LUGAR
SANTO AMARO
José de Faria, 69, dono de bar
Foi a maior besteira que já fiz. Sempre fecho o bar às 22h, mas naquele dia o movimento estava bom e eu fiquei até a meia-noite. Fui baixar a porta do bar, fiquei de costas para a rua e dois caras me abordaram. Gritaram para mim "entra, tio! Entra!". Nem sei de onde eles vieram. Eles me amarraram com uma corda de nylon e me trancaram no banheiro. Perguntaram pelos cigarros e dinheiro. Quinze minutos depois, meu vizinho me soltou e eles já tinham fugido levando R$ 3.000.

6º LUGAR
JABAQUARA
Camila Lima, 19, universitária
Tinha saído de uma entrevista de trabalho às 11h. Estava indo para o metrô Jabaquara pela av. Engenheiro Armando de Arruda Pereira. Um homem alto, de boné, se aproximou e mostrou a arma. "Sei que tem R$ 3.000 nessa pasta. Passa agora ou vou te matar." A pasta só tinha meus documentos e meu currículo. Ele pegou R$ 30 e o celular. Pedi para deixar o chip para receber a resposta da entrevista. "Não tem essa, vai andando e não olha para trás."

7º LUGAR
PQ. SANTO ANTÔNIO
Nádia Dias, 28
Já eram 19h30 e a rua aqui começa a ficar vazia nessa hora, quase nenhuma loja fica aberta.O ladrão entrou a pé e armado. Para quem já foi assaltada quatro vezes, esse cara foi até legal. Não foi nervoso, não fez ameaça e só pediu o dinheiro. Nem levou o celular da minha amiga. Se ele levou R$ 100 foi muito. Ele levou também todas as nossas moedas em uma sacola plástica.A gente não costuma ficar com muito dinheiro aqui, o dono sempre passa para recolher as notas mais altas.

8º LUGAR
JARDIM DA IMBUIAS
Rosa de Jesus, 48, auxiliar de limpeza
Eu tinha acabado de sair do banco. Saquei R$ 1.300 para pagar os dois primeiros meses do aluguel da minha casa e o fiado do mês anterior. Como não tenho cartão de crédito nem cheque, tive que sacar tudo de uma vez. Então na esquina, uma moto parou na minha frente. O garupa desceu com a arma na mão. Perdi um mês e meio de salário. Para pagar o aluguel, pedi um adiantamento para a minha chefe.

9º LUGAR
ITAIM PAULISTA
A.R., 39, professora
Meu marido me deixou de carro na escola onde trabalho, às 13h, horário que as crianças estão chegando. Ouvi um tiro na rua quando tinha acabado de entrar.As crianças correram para dentro da escola, e uma funcionária falou que meu marido estava lá. Saí para ver, e graças a Deus não tinha se machucado. Os bandidos atiraram no chão para fazê-lo abrir a porta do carro. Roubaram celular, relógio e correram.

10º LUGAR
IPIRANGA
H.C., 18, estudante universitário
Eram 23h30, um amigo e eu resolvemos sair de carro, porque pensamos que seria mais seguro. Jogamos o endereço no GPS, que nos levou pela av. Juntas Provisórias. Estava a 30 km/h quando um cara surgiu do nada na frente.
Freei rápido, mas cheguei a bater nele, que se desequilibrou. Quando ele se endireitou, apontou a arma para mim.
Um comparsa apareceu do lado do meu amigo, que estava no banco do passageiro. Nos fizeram sair, achamos que iam roubar o carro, mas só levaram celular e dinheiro; é possível que estivessem drogados.
Foi a quarta vez que fui roubado.


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