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Pedreiro do Haiti ajuda imigrantes em São Paulo

Haitiano abriga conterrâneos que chegaram neste mês do Acre

'Se pudesse dar um conselho, diria: não venham. Muitos brasileiros têm preconceito', afirma

FELIPE SOUZA DE SÃO PAULO

Há mais de dois anos, o haitiano Dynn Achesson Saintilus, 25, chegou ao Brasil fugindo da miséria agravada pelo terremoto que devastou seu país em 2010.

Ciente das dificuldades para se estabelecer em São Paulo, Saintilus deu abrigo para três conterrâneos que fazem parte dos cerca de 500 que chegaram à cidade neste mês, vindos do Acre.

A vinda dos haitianos sem aviso prévio abriu uma crise entre os dois Estados.

Após ver os compatriotas dormindo no chão de uma igreja, o haitiano levou três deles para morar no cômodo alugado que divide com os primos, no Cambuci.

"Quando soube que havia haitianos passando dificuldade, vim ajudá-los. O espaço é pequeno, mas sempre cabe mais um. A gente paga

R$ 400 por mês e oferecemos o espaço para eles por até dois meses, para que consigam um emprego", afirma.

Formado em jornalismo, Saintilus já enfrentava dificuldades antes do terremoto.

"Quando minha filha nasceu a gente passou muita fome. Cheguei a ficar um dia inteiro sem comer para alimentar minha mulher e minha filha recém-nascida, hoje com seis anos. Depois que a poeira do terremoto baixou, chorei quando descobri que um primo tinha morrido. Ele era como um irmão", conta.

"As coisas só pioraram com o passar do tempo. A falta de alimentos, de comunicação e de água dificultou a nossa vida. Meu pai, funcionário público, não conseguia mais pagar as contas. Nessa hora, decidi que teria de mudar de país para ajudar minha família."

O destino escolhido foi o Brasil, onde um amigo já estava e contava sobre boas oportunidades de trabalho. "Meus pais e irmãos compraram a passagem. Arrisquei tudo o que tinha e vim."

Sem saber uma palavra em português, saiu da cidade de Gonaïves, onde morava, foi para o Equador, cruzou o Peru e entrou no Brasil pelo Acre.

"Fiquei um mês, até eu me legalizar. Depois, fui para Rondônia, morei lá por um ano trabalhando como servente de pedreiro", diz, agora em português claro que aprendeu sozinho, na marra.

Sem conseguir novo emprego, decidiu vir para São Paulo. A chegada foi difícil -levou mais de dois meses para conseguir uma ocupação.

Seu último trabalho foi nas obras de expansão do aeroporto de Cumbica, mas ele já recebeu novas propostas.

"Mesmo com a melhoria de vida aqui, se eu pudesse dar um conselho para os haitianos, eu diria: não venham para o Brasil. Muitos brasileiros têm preconceito", diz.

"No ônibus, percebo que as pessoas evitam sentar ao meu lado. Já me disseram que aqui não tem lugar para estrangeiros e que a [presidente] Dilma tinha que mandar todo mundo de volta para casa", conta.

Apesar das dificuldades, ele diz acreditar que o pior já passou e agora planeja seu futuro por aqui. "Meu maior sonho é trazer minha filha e minha mulher para morar comigo e abrir uma loja de roupas. Se tivesse condições, traria as duas hoje mesmo. É triste ouvir minha filha chorando pelo telefone."


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