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Becos da dengue

Com entulho e água parada, duas ruelas, uma no Jaguaré e outra no Tremembé, têm dezenas de moradores infectados pela doença

ARETHA YARAK FELIPE SOUZA DE SÃO PAULO

O primeiro médico diagnosticou sinusite. O segundo, uma gripe forte. "Eu sentia uma dor de cabeça insuportável, nada passava", diz Millena Caponi, 15.

Quatro semanas depois, a estudante descobriu que não tinha nem sinusite nem gripe. "Estava com dengue. Fui a diversos hospitais para conseguir meu diagnóstico. Fiquei quatro semanas sem ir à escola", conta.

Millena é vizinha de Lorena, 5, que pegou dengue poucas semanas depois que a mãe, Edmar Gomes de Almeida, 31, também com sintomas da doença, enfrentou o mal-estar sozinha.

"Fui na AMA [Assistência Médica Ambulatorial] e no hospital aqui da região. Em nenhum tinha médico. Depois de alguns dias comecei a melhorar e acabei desistindo de ir ao médico", conta.

Millena, Edmar e Lorena moram em um beco de cerca de 200 metros na rua Elias Pereira, no distrito de Tremembé, zona norte da cidade de São Paulo. Lá, a maioria dos moradores teve dengue.

"Umas vinte pessoas já ficaram doentes aqui na rua. Em todas as casas têm algum morador que pegou dengue nos últimos meses", diz Priscila Herrera, 30.

O surto na região, dizem os moradores, pode ter sido causado pela reprodução do mosquito Aedes aegypti perto de um córrego que passa atrás das casas.

Segundo eles, o mato das margens ficou mais de um ano sem cuidado e até hoje acumula muito entulho.

"Só depois que os casos dispararam é que os agentes da prefeitura começaram a passar nas casas dando orientações", diz Millena.

À mercê do mosquito, os moradores do beco já encaram a dengue como parte da rotina."É mais fácil dizer quem não teve dengue do que listar todo mundo que teve", afirma Priscila.

Segundo a prefeitura, foram neste ano 323 casos da doença no Tremembé. A taxa de é de 163,7 por 100 mil habitantes, considerada média.

Na zona oeste da cidade, a situação se repete. No beco da Marival, entre as avenidas Dracena e Alexandre Mackenzie, no Jaguaré, cerca de 20 vizinhos também tiveram dengue nos últimos meses.

O bairro já registrou 733 casos, e a taxa de incidência é de 1.470 por 100 mil habitantes, considerada alto.

"Peguei dengue no começo de abril. Tive febre alta e não consegui levantar da cama durante uma semana", conta a operadora de telemarketing Ana Paula Santos, 27.

As casas do beco foram construídas sobre um córrego que deságua no rio Pinheiros. Pela viela é possível ver pontos de água represada, onde crianças passam o dia todo brincando.

Dentro da casa de Margarida Lucia Correa da Silva, 37, há dois buracos por onde mina água do córrego.

"Quero me mudar logo. Aqui do lado tem um terreno baldio. Toda noite viramos comida de mosquito", disse.

VIZINHANÇA

O provável foco de proliferação da dengue no beco da Marival tem incomodado moradores de um condomínio da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) que divide muro com as casas da viela.

Segundo eles, desde o início do surto, a prefeitura não fez nenhum mutirão de limpeza ou dedetização.

A área tem 34 prédios. Apenas em um andar de um deles, foram registrados três casos do vírus.

"Fiquei doente duas semanas. Quando sarei, meus dois vizinhos do lado começaram a apresentar os sintomas", disse a estudante Ingrid de Oliveira Silva, 16.

No prédio ao lado, ao menos cinco pessoas também tiveram a doença.

O motorista Edson Jesus Viana, 36, reclama do descuido com a prevenção. Seu filho de 11 anos foi uma das vítimas do mosquito. "Há carros abandonados na rua, córregos com entulhos e pneus por todo o lado", disse.

Segundo a secretaria municipal de saúde, foram intensificadas as ações em todos os bairros que tiveram surto de dengue.


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