Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

'Mães provisórias' cuidam de mais de mil crianças no país

Elas recebem por até dois anos filhos separados dos pais pela Justiça

Psicóloga já acolheu nove em sua casa, em Belo Horizonte; 372 municípios têm programas do tipo

NATÁLIA CANCIAN ENVIADA ESPECIAL A CAMPINAS

Em cinco anos, a psicóloga Maria do Carmo Martins, 56, já foi "mãe" de nove crianças. Uma vez, cuidou de três irmãos. Outra, de uma bebê prematura, que visitou todos os dias no hospital, por meses, só para pegá-la no colo.

"Já tive criança sem vínculo afetivo, com abstinência alcoólica e que havia passado fome", conta. Ela tem a ajuda das duas filhas para, a pedido da Justiça, acolher crianças temporariamente em sua casa em Belo Horizonte.

Na prática, é como se a criança ganhasse uma família provisória enquanto uma equipe técnica trabalha para reestruturar a dela própria.

"São como meus filhos, só que emprestados", afirma Maria do Carmo.

Alternativa aos abrigos tradicionais, o país tem hoje 1.390 crianças sob cuidados de famílias temporárias. Há três anos, eram 932, de acordo com o Ministério de Desenvolvimento Social, que regulamenta o serviço.

O número, embora pequeno perto do total de crianças abrigadas -46 mil, segundo o Conselho Nacional de Justiça- revela uma modalidade de acolhimento que, pouco a pouco, começa a ganhar espaço no país.

Hoje, 372 municípios, em ao menos 19 Estados, têm programas desse tipo.

Funciona assim: separada dos pais por ordem da Justiça, a criança passa a morar com uma família acolhedora, de quem recebe cuidados por no máximo dois anos.

Se, após o período, o risco à criança persistir, ela pode ir para outra família à espera na lista da adoção.

O objetivo é dar atendimento individualizado. "A criança se desenvolve rapidamente quando encontra um ambiente protetor", afirma a psicóloga Cláudia Cabral, diretora da Associação Terra dos Homens, que apoia projetos do tipo desde 1996.

IMPASSES

A medida, porém, ainda gera dúvidas. "Nada melhor que, em situações de risco e na ausência de membros da família, a criança seja colocada em acolhimento familiar em vez de um abrigo", afirma o corregedor do CNJ, Francisco Falcão.

Por outro lado, ele vê um risco. "A convivência pode ser boa demais, o que pode causar traumas na reversão."

Responsável por um dos serviços de acolhimento familiar mais antigos do país -o Sapeca, em Campinas (SP)-, Cláudia Russo diz que isso não costuma acontecer.

"Temos encontros semanais com a família de origem. A criança sabe que tem uma família e está acolhida por outra enquanto a dela está se recuperando."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página