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População desconfia do poder público, diz sociólogo
FELIPE SOUZA DE SÃO PAULOO estopim para os últimos casos de justiçamento no Brasil, segundo o sociólogo Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo, são manifestações públicas em defesa desse crime e a desconfiança da população com a Justiça. Azevedo é professor da PUC-RS e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
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Folha - Os linchamentos aumentaram no Brasil ou só foram mais divulgados?
Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo - Não temos um acompanhamento quantitativo para afirmar que houve um crescimento. Mas há uma maior repercussão pública.
A questão dos linchamentos é histórica e há teses que demonstram essa prática no Brasil. Mas nesses últimos casos há algumas características diferentes. Vítimas mulheres eram raras nesse tipo de linchamento, e a divulgação dessas ações na internet também é novidade.
Qual o principal motivo dessas ações?
Essas pessoas [agressores] demonstram falta de confiança na Justiça. Antes, linchamentos eram pontuais e causados por ligações com crimes de grande repúdio popular. Mas, no caso do menino no Rio [furtos na praia], ele não cometeu um crime tão bárbaro. A reação da população foi causada pela falta de confiança de que isso fosse resolvido de outra forma.
Quais os motivos desses novos casos no Brasil?
A descrença da população no poder público vem se acumulando. O estopim me parece ter sido provocado por manifestações de formadores de opinião que passaram a bradar por justiça com as próprias mãos. Havia uma cobrança em relação a impunidade, reforma das leis e maior eficácia das instituições. Nos últimos meses, houve uma mudança de tom dessas manifestações.
As redes sociais e celulares ajudaram a divulgar?
A democratização do acesso e da produção de informação sem checagem pode difundir boatos de forma viral e atingir grandes proporções. É difícil definir culpados para isso. Deve haver uma reforma das polícias, começando pela implantação de equipes que façam o policiamento ostensivo e a investigação.
Outro ponto é investir na administração de conflitos de forma rápida. Juizados especiais precisam ser desburocratizados. O terceiro ponto é reduzir a superlotação e o domínio dos presídios por facções criminosas.