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Abrigo de haitianos vira 'feirão de emprego'

Empresários recrutam empregados na igreja no Glicério onde estão imigrantes que entraram no Brasil via Acre

Destino de estrangeiros inclui Estados como Santa Catarina e Paraná, além do interior de São Paulo

EMILIO SANT'ANNA AVENER PRADO DE SÃO PAULO

Às 10h, a movimentação é intensa no pátio da Igreja Nossa Senhora da Paz. É algo tão fora do normal que essa parte do dia passou a ser chamada por ali de "a hora do empresário", diz o padre Paolo Parise.

Desde que os haitianos chegaram ali, no início de abril, enviados pelo governo do Acre, assim é a rotina na rua do Glicério, região central de São Paulo: grupos se formam ao redor dos representantes de empresas para ouvir propostas de emprego.

"Quinta-feira foram 60 contratados. Na quarta, 57. Na terça, 47. Todos eles com carteira assinada", diz o padre, diretor da Missão Paz.

Até agora, 50 empresas já contrataram haitianos no local, uma maioria de homens, jovens e dispostos a "fazer América", a do Sul.

Anchelus Wendel, 25, se encaixa nesse perfil. Com um fone vermelho nos ouvidos e apartado do resto do grupo, diz que um dia quer concluir os estudos. Por ora, pensa mesmo é em conseguir um emprego na construção civil.

É o mesmo desejo de Fenitho Duverna, 32. "Sei que posso ganhar entre R$ 3.000 e R$ 5.000 na construção. Trabalho com acabamento", diz.

Antes de chegar ao Brasil, há cerca de 40 dias, passou oito anos na República Dominicana, onde se formou em administração de empresas.

"Quero ganhar dinheiro rápido e trazer minha família [mulher e duas filhas]", diz.

A maioria dos salários oferecidos, porém, fica bem abaixo do desejo de Duverna: vão de R$ 800 e R$ 1.300, além de alojamento e benefícios como vale-alimentação.

Os destinos variam. Muitos vão para Estados como Santa Catarina e Paraná preencher vagas em frigoríficos e fábricas têxteis. Outros seguem para o interior paulista.

CONCORRÊNCIA

À tarde, os interessados em contratar continuam a chegar. Nem todos sairão de lá com o objetivo alcançado.

A expectativa dos haitianos de um salário maior e a concorrência entre os recrutadores podem explicar porque alguns dizem ir embora com menos do que precisam.

"Vim para contratar 30. Estou levando 10", diz Jefferson Alves Silva, da Emplal, empresa de embalagens em Três Lagoas (MS). "Vou colocá-los no avião e amanhã [sexta] volto para tentar mais dez."

Mesmo depois que os haitianos se vão, o trabalho da Missão Paz, que recebe os imigrantes, continua.

Com o Ministério Público do Trabalho, deve acompanhar a trajetória de cada um. O objetivo é impedir que as histórias de exploração desde que saíram do Haiti se perpetuem no Brasil. Nove entre dez contam situações semelhantes. Chegaram ao Acre via Peru, onde deixam até U$ 2.000 com "coiotes", que os ajudam a atravessar a fronteira.


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