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Burocracia barra refúgio de outros estrangeiros
DE SÃO PAULO"Por que os brasileiros gostam tanto dos haitianos?", indagou à reportagem da Folha, na última semana, o congolês Arnold Mwanza, 24.
Há quatro meses no Brasil, ele é um dos mais de 5.000 estrangeiros que vieram ao país fugindo de mazelas ao redor do mundo e que ainda esperam a formalização do refúgio para recomeçar a vida.
Abrigado na Casa do Migrante, em São Paulo, ele olhava com inveja os haitianos que recebiam ofertas para trabalhar e, na maioria dos casos, já deixavam o lugar após a contratação.
A casa está dentro da Missão Paz, no bairro do Glicério, centro da capital, onde também estão abrigados os haitianos, muitos deles recém-chegados do Acre.
Para os nascidos no Haiti, por causa do terremoto de 2010, o governo concede um visto humanitário, o que acaba agilizando a regularização.
Para as centenas de estrangeiros que aguardam pela concessão do refúgio na Casa do Migrante, mantida pela Congregação Missionários de São Carlos, a burocracia e até os fatores culturais tornaram-se um entrave.
O abrigo, aberto desde 1975, é um espelho dos conflitos e tragédias pelo mundo. Nos seus primórdios, eram comuns vietnamitas e latino-americanos.
Hoje, além dos haitianos, a casa recebe pessoas da Síria, Egito, Congo, Guiné-Bissau, Colômbia, entre outros países.
Depois de passar por campos de refugiados no Líbano e na Jordânia, o professor sírio Mohammed (ele preferiu não falar o sobrenome), 27, chegou ao Brasil há pouco mais de quatro meses. Diz ter perdido 20 parentes na guerra civil da Síria.
"Não esperava passar por tantos problemas. No Oriente Médio a propaganda sobre o Brasil como país receptivo é muito grande, mas a realidade é diferente", disse.
À espera da concessão do refúgio e ainda sem carteira de trabalho, ele não tem aulas de português no abrigo.
"Há uma pressão extraordinária. A espera para fazer um primeiro documento e recomeçar a vida chega a levar nove meses", diz Larissa Leite, advogada da Cáritas, entidade ligada à Igreja Católica, que atua com refugiados.