Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Barbara Gancia

Jimmy Hoffa mandou lembranças

Nós não temos extrema direita ou extrema esquerda. Não há porque continuar a nutrir uma rusga doentia

Já pensou se o Marcola tivesse nascido no Vale do Silício? Provavelmente seria um Steve Jobs. E a esta altura já teria conseguido aumentar a carga da bateria do iPhone para umas 24 horas de duração.

Em contrapartida, se Steve Jobs tivesse nascido na favela do Pavão-Pavãozinho, nós hoje estaríamos prevendo a construção de abrigos antiatômicos em cada unidade habitacional lançada no país.

Longe de mim querer exaltar o brilho intenso que de mim emana, mas na tarde de terça, bem antes de o prefeito Haddad (PT) formalizar a associação entre o termo "guerrilha" e os protestos, eu já estava na rádio parabenizando os fomentadores da bagunça.

Nunca vi em São Paulo se instalar o caos com tamanha eficiência e, ao mesmo tempo, despendendo tão pouco esforço. Pessoal é realmente profissional, tiro o chapéu. Ou tiraria, se usasse. Cá entre nós: quanta harmonia. Um ônibus atrás do outro --visto de cima poderia ser até um geométrico do Volpi.

E de uma eficiência tremenda, já que o "mob protesto" ferrou a todos democraticamente: ricos e pobres, todos parados irmãmente no meio da rua sem conseguir chegar ao compromisso, aula, médico, ao enterro do avô, parecia uma pintura.

Lá do além, Carlos, o Chacal deve ter aplaudido orgulhoso ao constatar que os ensinamentos das técnicas do Baader-Meinhof, das Brigadas Vermelhas e de outros grupos radicais, passados pelos sequestradores internacionais de Abílio Diniz, Luiz Sales e Washington Olivetto, acabaram sendo bem assimilados pela turma do crime organizado nos banhos de sol da cadeia.

No rastro do sindicalismo de resultados inspirado em Jimmy Hoffa, que fez escola entre os pioneiros Paulinho da Força (SDD) e Jair Meneguelli, surge a figura do excelente Guilherme Boulos, líder do MTST. O rapaz consta dos recentes levantamentos da Abin (Agência Brasileira de Inteligência --lembra?) atestando que haveria agitação pré-Copa e que ela seria orquestrada principalmente por: a) crime organizado e b) organizações sindicais.

Veja bem: reconheço o grande serviço que o sindicalismo presta à economia de mercado como promotor do equilíbrio entre as partes. Sem que a classe trabalhadora formasse um só corpo com cérebro e voz para representar seus interesses, a balança do poder rapidamente penderia para o lado mais forte. Sindicatos também ajudam a promover a tão almejada distribuição de renda.

Mas conheço também estudos recentes, contratados por organizações privadas, muito preocupadas com o clima inflamável que há no país. E eles concluem que não existe extrema direita nem extrema esquerda no Brasil. Não há porque continuar a instigar esse antagonismo, essa rusga inexistente.

O que existe, de fato, é uma turma tentando se aproveitar de um momento particular --a iminência de um evento internacional-- cujo êxito influenciará o resultado de uma eleição. E essa cambada de oportunistas é formada por crime organizado, pela escória do sindicalismo, por milicianos (ou seja, ex-policiais corruptos) e por gente que se diz da militância, mas está na dança para garantir o seu, aproveitando a nuvem de mau humor que paira.

Só que tem um detalhe: as visitas estão chegando. E a gente precisa arrumar a casa, passar aspirador, ajeitar as flores. Não vai dar pra ficar quebrando o pau no meio da rua. Muito menos para tentar impedir a chegada do comunismo (!) meu Deus, que vergonha essa paranoia ridícula!

Veja: até dá para protestar durante a Copa, por que não? Mas não usando técnicas que deveriam estar sendo empregadas no conflito da Síria ou do Afeganistão.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página