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Educadores se opõem a envio precoce para supletivo

Governo afirma que transferência de jovens para a EJA evita evasão

Mudança aproxima jovem de mundo adulto antes da hora e limita acesso a conteúdo escolar, dizem analistas

DE SÃO PAULO

João Pedro Gonçalves Pires, 16, passou a frequentar uma turma de pós-alfabetização da Educação para Jovens e Adultos (EJA) na semana passada em São Paulo.

Tinha abandonado a escola em setembro de 2013. Embora estivesse no nono ano do ensino fundamental, não sabe ler e escrever direito.

"Eu só sei fazer letra de fôrma. Tinha vergonha dos outros colegas", diz João Pedro.

Casos como o dele ajudam a explicar por que o número de adolescentes enviados do ensino regular para a EJA resiste em cair.

"A falta de acompanhamento e apoio adequados faz com que alguns alunos não superem suas dificuldades ao longo do ciclo escolar regular", diz Regina Estima, gerente de projetos do centro de estudos Cenpec.

A transferência de alunos a partir de 15 anos para a EJA é legal. Mas a maior parte dos especialistas ouvidos pela Folha acha que o envio de adolescentes para o antigo supletivo deveria ser evitado.

"Encaminhar os mais jovens para a EJA não é o ideal. A proposta pedagógica é que ele fique no ensino regular", diz Lívia Maria Antongiovanni, diretora de EJA da Secretaria Municipal de Educação.

Segundo especialistas, a migração para o antigo supletivo aproxima o adolescente precocemente do mundo adulto e prejudica sua socialização.

O formato do ensino acelerado, dizem, é mais adequado para adultos que conseguem complementar o conteúdo enxuto com sua maior experiência de vida.

"Se o ensino regular já é deficitário para os jovens, imagine o formato mais curto?", questiona Magno Duarte, coordenador de projetos da ONG Comunidade Cidadã.

AVALIAÇÕES

Regina, do Cenpec, identifica uma maior tendência entre as escolas de transferir para a EJA os alunos que apresentam pior desempenho:

"Com as avaliações externas, aumentou a pressão por bom desempenho. As escolas estão assoberbadas, transferindo sem muita reflexão".

O acadêmico José Francisco Soares, presidente do Inep (órgão de pesquisa ligado ao Ministério da Educação), não vê a transferência de adolescentes para a EJA como uma tendência negativa:

"É interessante que o jovem veja a EJA como uma trajetória que permite a ele se certificar. A geração anterior não tinha essa opção e o adolescente evadia."

Segundo ele, a migração dos jovens para a modalidade tem contribuído para aumentar sua escolaridade.

Soares também discorda de que as avaliações externas ajudam a explicar a transferência de adolescentes para a EJA e ressalta a importância desses exames:

"Aprender é um direito do aluno e a avaliação no Brasil foi libertadora porque mostrou que tem alunos que não estão aprendendo."

A análise de Soares não se aplica, no entanto, aos alunos do antigo supletivo, que não são submetidos a nenhuma avaliação externa.

"Ninguém olha para a EJA. A EJA é o que sobra", diz Bruno Novelli, da ONG AlfaSol.


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