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Cotidiano

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Falta de pessoal e estrutura pioram dengue em Campinas

Equipamentos básicos de combate só foram repostos recentemente na cidade

Até o fim de maio, 1 em cada 39 campineiros contraiu a doença; há casos de famílias inteiras contaminadas

LUCAS SAMPAIO DE CAMPINAS

Na casa da aposentada Matilde Cipriano dos Santos, 62, na periferia de Campinas (SP), seis pessoas contraíram dengue --ela, o marido, dois filhos, uma nora e o filho dela.

"Estou há 34 anos aqui e nunca vi uma epidemia dessas", conta. "Teve rua em que praticamente todo mundo pegou. Até os enfermeiros do posto de saúde pegaram."

De todos os Estados, só Goiás, Minas Gerais e Paraná têm mais casos notificados de dengue em 2014 do que Campinas sozinha, a terceira maior cidade paulista, com 1,15 milhão de habitantes.

Falhas na prevenção à proliferação do mosquito, falta de pessoal e problemas estruturais na saúde municipal contribuíram para que a cidade enfrentasse a maior epidemia de sua história.

Já são três mortes confirmadas, com mais de 30 mil casos da doença e famílias inteiras contaminadas. Até o fim de maio, 1 de cada 39 campineiros tinha contraído a doença --na periferia, há bairros em que mais de 10% da população pegou o vírus.

No posto de saúde do bairro, um "placar da dengue" foi colocado na recepção para alertar a população. Consultas e agendamentos foram suspensos por seis semanas, para que apenas casos de dengue fossem atendidos.

"Quando fui no hospital e falei que morava aqui, já perguntaram: É dengue, né?", diz Antônio Fernando Félix Jr., 20. Na família, duas irmãs, um primo, um tio e duas tias também pegaram a doença.

Com suspeita de dengue, Júnior nem sequer tentou ir ao posto próximo à sua casa, como fazem muitos outros doentes, que superlotaram hospitais. "E perder tempo? Aquele postinho é uma calamidade. Tem só um médico, que vai só às quartas", diz.

ESTRUTURA

Na cidade, os agentes de combate são insuficientes e equipamentos básicos, como máscaras faciais, filtros e botas de PVC, foram repostos recentemente --os funcionários trabalharam um ano sem eles, em funções limitadas.

Para amenizar os danos, a prefeitura conta com a ajuda do Estado e do Exército.

A falta de estrutura prejudica também o trabalho de notificação dos casos.

Sem internet, funcionários da Vigilância em Saúde (Visa) da região noroeste, a mais afetada, levam trabalho para casa. É lá que eles se conectam à rede e registram os casos de dengue após o expediente e nos fins de semana.

"A equipe entrou em colapso de exaustão. Imagina trabalhar normalmente todos os dias, ir para a casa e depois trabalhar até a meia-noite, aos fins de semana?", questiona Heloísa Costa, coordenadora do Visa Noroeste.

Devido à epidemia e à falta de funcionários, o Conselho Municipal de Saúde pediu em abril que fosse decretado estado de emergência, o que a prefeitura não fez.

O Ministério Público estadual abriu um inquérito civil para investigar a situação, e um vereador da oposição pediu a criação de uma CPI --que tem apenas 4 das 11 assinaturas necessárias.

"Infelizmente não tem como voltar no tempo, mas podemos responsabilizar os agentes públicos para que isso não ocorra mais", afirma a promotora Cristiane Corrêa de Souza Hillal.

"Cabe eventual responsabilização do prefeito e do secretário de Saúde, mas eles terão oportunidade de dizer o que faltou."


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