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Um príncipe na cracolândia

Visita de Harry, 29, um dos herdeiros do trono inglês, ao centro de SP, causa alvoroço e surpreende frequentadores da região

GABRIELA MANZINI ARETHA YARAK DE SÃO PAULO

"Se o príncipe vier aqui no meio dos noias [usuários] e beijar a minha mão, eu paro de usar crack agora", brincou uma dependente da droga, na manhã desta quinta-feira (26).

O príncipe em questão é Harry, 29, solteirão cobiçado e quarto na linha de sucessão ao trono da Inglaterra, que no quarto dia de sua visita ao Brasil foi conhecer a cracolândia, no centro de São Paulo.

Mas o beijo não aconteceu. Cercado de policiais e seguranças, que o separavam da multidão de curiosos, viciados e membros da mídia, o príncipe passou pouco menos de uma hora no local.

Harry desembarcou de um Jaguar preto com placas da Polícia Federal às 8h40, na praça Júlio Prestes. De lá, circulou a pé, acompanhado do prefeito Fernando Haddad (PT), da primeira-dama Ana Estela Haddad e de secretários da prefeitura.

Visitaram as instalações do programa municipal Braços Abertos, que procura reabilitar dependentes químicos oferecendo trabalho, moradia e alimentação.

Evandro Martins da Silva Junior, 28, participante do Braços Abertos, foi selecionado para conversar com o príncipe no centro de convivência. "Me escolheram porque eu falo um pouco de inglês e tenho uma boa atuação no programa", explica.

No dia anterior, Silva Junior disse que havia pesquisado sobre Harry na internet e que aproveitaria a oportunidade para perguntar a ele sobre a própria experiência com as drogas. Na hora H, desistiu.

"Sei que ele já fumou maconha", disse. Com a ajuda de uma tradutora, respondeu às perguntas do príncipe. "A visita foi para saber se o programa está dando certo. Para mim, está."

'QUE PRÍNCIPE É ESSE?'

Nem todos os presentes estavam tão preparados para a visita ilustre, porém.

"William! William!", gritava Fábio Pereira da Silva, 33, que varre ruas pelo programa. "Qual príncipe é esse?", perguntou, confundindo Harry com o irmão mais velho. "E por que não mandaram uma princesa?"

A maioria dos que notaram a presença, porém, se divertia. "O príncipe da Inglaterra aqui? Mas a Inglaterra não foi eliminada [da Copa]?", diziam, às gargalhadas. Outras brincavam: "Príncipe, deixa eu ser sua rainha?"

No "fluxo", local onde se concentram os usuários de crack, estavam cerca de 50 pessoas. Alguns usavam a droga sem se abalar pela comoção a poucos metros dali.

O circuito do príncipe --e da multidão de jornalistas que o acompanhava-- não passou pelo local porque os viciados costumam atirar paus e pedras em quem tenta filmá-los ou fotografá-los.

Não teve jeito. Pelo menos duas equipes --estrangeiras-- que desconheciam o "código de conduta" local foram alvo. Outras tiveram os equipamentos estapeados.

O horário escolhido para a visita não é, tipicamente, o pico da frequência no "fluxo".

A área havia sido lavada pela manhã, como acontece todos os dias --a limpeza aumentou desde o começo do programa. As barracas erguidas pelos usuários não fo-ram removidas.

A confusão causada pelo embate entre fotógrafos e usuários fez com que o príncipe partisse às 9h35, antes do previsto, sem passar pelo largo Coração de Jesus ou pelos "hotéis sociais", que custam menos de R$ 10 a noite.

A breve estadia foi o bastante, porém, para que Harry conquistasse a simpatia de Marcos Vinícius, 21, frequentador da região há cinco anos.

"O príncipe é muita humildade'", disse. "Ele veio lá do outro lado [do mundo] para conhecer o lado feio de São Paulo. Aqui é a boca do lixo."

Aos poucos, com a partida da comitiva e dos jornalistas, a movimentação na cracolândia voltou ao normal. "De que adianta ele vir aqui? Ajudar a gente que é bom, não ajuda", disse um usuário.


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