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Ele dizia que não era pecado, afirma músico

Homem de 42 anos diz ter sido abusado por religioso na lavanderia de paróquia no RS quando tinha 11 anos

Acusado afirma que denunciante 'cometeu erros' e que há casos que não pode narrar por sua 'condição religiosa'

DA ENVIADA AO RIO GRANDE DO SUL

O violoncelista e advogado gaúcho Alexandre Diel, 42, afirma que foi violentado por João Marcos Maciel, dom Marcos, quando integrava coral em Novo Hamburgo (RS).

Segundo ele, os abusos ocorreram em 1983 nas dependências da paróquia de Hamburgo Velho. Divorciado e pai de dois filhos, ele falou à Folha em frente à igreja onde teve sua iniciação musical. Chorou em diversos momentos do relato.

Ao ser indagado sobre o caso, o religioso diz que Diel "cometeu erros" e que há casos que ele não pode narrar por sua "condição religiosa" (leia mais na pág. C4).

Leia abaixo os principais trechos da entrevista.

Folha - Como foi o abuso que você relata?

Alexandre Diel - Ele começou a me convidar e a outros meninos para passar o dia na casa paroquial. Até que um dia, me chamou dizendo que tinha que levar roupas à lavanderia no subsolo. De repente, ele baixou minhas calças e cueca, me deixou nu, de costas, e me penetrou. Foi no seco. Eu tinha 11 anos.

Você gritou, reagiu?

Fiquei completamente paralisado. Ele me penetrou, teve a relação sexual. Depois, começou a falar que era uma coisa normal, que para Deus não era pecado. Disse que era um segredo entre nós dois.

Quanto tempo durou?

Três anos, mais ou menos. Ele se colocava na posição de ídolo, o cara que eu queria ser. Na minha cabeça ficou uma confusão. Ao mesmo tempo que eu não gostava daquilo, era uma oportunidade de estar perto dele.

Quando isso mudou?

Na adolescência, fui tomando consciência do sexo e de que aquilo não era muito certo, não era normal.

Como era o coral?

Eu comparo muito com a máfia. De onde não se podia sair nem confiar em mais ninguém fora dali.

O que te faz vir a público tantos anos depois?

Tinha 37 anos quando fui falar para meus familiares. Pensei: esse cara está por aí. Cheguei a ir na cidade dele, falei com a promotora e o padre. No meu caso, sabia que o crime estava prescrito e não adiantava fazer denúncia.

Você espera justiça?

A dor não prescreve. Quando aconteceu, tinha 11 anos. Só conseguir falar 20 anos depois. Tem toda uma questão moral, discriminação.

O que achou do livro do Marcelo Ribeiro?

Na hora soube que era o mesmo abusador. O "modus operandi" é semelhante.

O que espera ao denunciar?

Espero contribuir para que ele não faça mais isso e que outras pessoas se sintam motivadas a falar de suas experiências. Criar coragem de contar a sua história e dar a cara a bater são a única maneira de as coisas mudarem.


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