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Leão Serva

#Malditosfios e a tragédia anunciada

Com a degradação dos postes, é um milagre o baixo número de acidentes como foi o do Tatuapé

Um casal foi eletrocutado em seu carro no Tatuapé, São Paulo, na quinta-feira. Ele morreu na hora, ela foi internada em estado grave. A concessionária Eletropaulo ainda não esclareceu o que fez o cabo se romper sem chuva, vento ou queda de árvore. No dia seguinte, o prefeito Fernando Haddad disse que vai enterrar os fios na avenida Santo Amaro. É pouco e tarde.

É pavoroso pensar que uma tragédia como essa possa acontecer em qualquer lugar da cidade, com 41 mil km de fios elétricos pendurados sobre nossas cabeças. Quem olha para os postes espalhados pelos 17 mil km de ruas vê claramente sua degradação: cada vez mais cabos e menos manutenção. Em algumas áreas parecem novelos.

As distribuidoras de energia (aqui, a Eletropaulo) são as donas dos postes. Mas a agência federal Aneel as obriga a alugar a outras empresas o direito de passar seus fios (além dos elétricos, há de telefonia e TV). As elétricas divulgam que só usam a parte superior dos postes, mais organizada. O caso do Tatuapé mostra que nem tudo é simples assim.

O enterramento dos #malditosfios é urgente. É questão estética mas também ambiental: a fiação aérea ameaça as árvores, fundamentais para a qualidade do ar e a redução do calor. É ameaça à vida, como ficou claro esta semana. É ainda um caso de segurança no abastecimento de energia: a cada chuva de verão os paulistanos sofrem longas interrupções. Estudo feito por associação de empresas elétricas americanas (incluindo a AES, matriz da Eletropaulo) indica que a fiação no subsolo é treze vezes mais segura do que a aérea.

Depois de vários anos fugindo da discussão, no ano passado a Eletropaulo decidiu fazer uma proposta para o enterramento dos fios. Encomendou um estudo à consultoria internacional McKinsey com referências mundiais, custos e formas de financiamento adotadas em diferentes metrópoles.

A companhia propõe um programa para enterrar em dez anos todos os fios do centro de São Paulo (onde vigora o rodízio de automóveis), que corresponde a 10% de sua área de atuação, com 7% dos clientes, que atrai 30% dos que trabalham em São Paulo. Ali, a empresa distribui 25% de sua energia, por uma rede de 3,5 mil km de fios. Seriam enterrados 350km/ano, como faz Tóquio.

O custo total do enterramento nessa área é estimado em R$ 10 bilhões (R$ 1 bi/ano). Para financiar a operação: as empresas que dividem os postes pagam parte da conta; prefeitura, governos estadual e federal entram com descontos de impostos que incidem sobre o enterramento (obras ou equipamentos) e o município refaz o asfalto ou as calçadas das áreas envolvidas.

Essa fórmula permitiria o repasse de apenas 20% (R$ 200 milhões/ano ou R$ 17 mi/mês) dos custos para as tarifas. É algo como R$ 4 por residência/mês.

A proposta foi levada em 2013 para o prefeito Fernando Haddad mas ele já estava com a TPM ("tensão pós-MPL") que tem marcado sua gestão. O trabalho defende que é necessária uma instância com liderança política para convocar as diversas partes envolvidas e coordenar seus movimentos. É uma chance para o prefeito fazer história. Ou pelo menos, deixar que outrem faça. O que não dá é para conviver inerte com o risco de novas tragédias ocorrerem.

E para quem acha que enterrar fios é coisa de rico, Mumbai (na pobre Índia) já enterrou 100% dos seus.


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