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Ilustrada - em cima da hora / Flip 2014

Prata e Hamid fazem a conexão Brasil-Paquistão

Os dois autores se identificam com o desconforto que vem do fato de ser classe média em um país pobre

Brasileiro diz que após ler obra do colega se sentiu paquistanês: 'Periferia é periferia em qualquer lugar'

FERNANDA REIS ENVIADA ESPECIAL A PARATY

Logo no início da mesa que dividiu com o escritor paquistanês Mohsin Hamid nesta sexta-feira (1º), o escritor e colunista da Folha Antonio Prata confessou: "Quando soube que íamos conversar na Flip, achei que não íamos ter nada em comum".

"Mas quando li a obra dele, me senti paquistanês. Como diria o filósofo Mano Brown, periferia é periferia em qualquer lugar do mundo".

Conexões entre Brasil e Paquistão e o estilo dos dois autores foram o mote da conversa, mediada pela jornalista Teté Ribeiro, editora da revista "Serafina", da Folha.

Os dois escritores têm o tema do desconforto em ser alguém da classe média num país pobre presente em suas obras. "Quando li Fundamentalista Relutante', de Hamid, comecei com um olhar de americano, de vamos ver como é esse exótico Paquistão'", disse Prata.

"É ridículo pensar assim, porque em muitos sentidos somos muito mais próximos do Paquistão que dos Estados Unidos. Apesar do meu tênis Vans", brincou o brasileiro.

Hamid, que lança aqui "Como Ficar Podre de Rico na Ásia Emergente", disse que umas das maravilhas do século 21 é poder entrar em contato com países de realidades parecidas com a sua sem precisar ler sobre eles no "New York Times".

O escritor arrancou gargalhadas do público ao contar como entrou em contato com a cultura brasileira pela primeira vez, ao ouvir a música "Taj Mahal", de Jorge Ben Jor.

"Ele fala de uma história de muçulmanos, mas faz um coro de krishna, krishna', que é hindu", riu. Para ele, ou o compositor tinha massacrado a história ou feito uma reinterpretação brilhante dela.

Bastante à vontade um com o outro --Hamid ria de todas as piadas de Prata--, os dois disseram ver semelhanças também em sua forma de escrever, colocando muito deles mesmos em seus personagens e abusando da autoironia.

"Na crônica, mesmo quando você conta algo que aconteceu com você, é ficção, porque os fatos são trabalhados literariamente", frisou Prata, cujo último livro, "Nu de Botas", mistura lembranças suas com invenções.

Hamid também vê semelhanças. "O protagonista do Fundamentalista Relutante' parece comigo. Mas há diferenças. Eu me sinto meio americano e meio paquistanês e não preciso escolher um lado, diferentemente do personagem", afirmou.

"A história do livro não é a minha, mas poderia ter sido."

Para o autor paquistanês, a história que contamos sobre nós mesmos é ficção. "O self' é uma criação. Digo para mim mesmo que sou um cara legal, mas nem sempre sou."

Os dois falaram também sobre o que fazem quando não estão produzindo literatura. Prata, que cria roteiros para a Globo, disse que o trabalho na TV permite que ele se sustente como escritor.

"O Antonio Prata rico ganha dinheiro e dá para o Antonio Prata pobre continuar publicando livros." Hamid, que fez um intervalo de sete anos entre um livro e outro, diz que precisa de tempo para viver a vida. "Escrever é um pouco como morrer, você se desliga do mundo. Eu só aguento isso um pouco."


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