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Maior UPP do Rio volta à rotina de tiroteios e tráfico

PM já não controla todo o Complexo do Alemão, símbolo da política de segurança

Contabilidade de traficantes mostra registro de venda de armas dentro do conjunto de favelas

MARCO ANTÔNIO MARTINS DIANA BRITO DO RIO

No último mês de julho, em todos os dias houve ao menos um tiroteio em algum ponto do Complexo do Alemão, zona norte do Rio.

Considerada pelo governo do Estado como estratégica no projeto das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), a comunidade vive o retorno à rotina de violência.

Policiais militares das quatro UPPs do conjunto de favelas --que, juntas, formam a maior unidade do programa de pacificação-- já não patrulham toda a região.

À Folha reconheceram: não vão a becos para evitar confrontos, lembrando o período em que o lugar era território dominado pelo tráfico.

A preocupação com a segurança também faz parte da rotina do delegado Felipe Curi, da delegacia instalada na comunidade, que só chega ou sai de lá em carro blindado.

De janeiro a julho, sete moradores morreram em tiroteios entre policiais e traficantes. Vinte e dois PMs ficaram feridos e dois morreram.

Em 2013, no mesmo período, não houve vítimas.

A situação atual na favela coloca em xeque o principal programa da área de segurança do governo do Rio.

Uma investigação da Polícia Civil identificou 40 menores envolvidos com o tráfico.

O reforço do Bope (Batalhão de Operações Especiais) no efetivo da UPP, além de uma operação com 500 policiais e nenhum preso, há duas semanas, só aumentaram a tensão na região.

A Folha apurou que é consenso na Secretaria de Segurança que o problema começou em abril de 2012, pouco depois da ocupação do complexo de favelas, quando o Exército passou o comando do Alemão ao governo.

O efetivo do Exército era de 1.800 militares, o que possibilitava ter sempre 1.200 por dia no patrulhamento.

A PM tem 1.400 homens no local. Porém, com a escala de um dia de trabalho e três de folga, há, no máximo, 350 policiais simultaneamente na favela.

Com o início da crise, esse contingente foi reforçado para 450 PMs, mas não foi o suficiente para mudar o cenário.

"O Exército tinha efetivo para sufocar o tráfico; a PM não tem. Na nossa época, ocupávamos os pontos mais altos, e a ação dos criminosos era inibida", afirma o coronel Fernando Montenegro, que por quase dois anos esteve na ocupação do Exército.

Outros problemas são apontados internamente. Entre eles, a falta de investigação dos criminosos que foram expulsos durante a ocupação e permanecem em liberdade --muitos patrocinam as ações de retomada de território.

Desesperados, moradores foram às redes sociais lançar as campanhas "Paz no Alemão" e "SOS Complexo do Alemão".

A apreensão nesta semana, pela Polícia Civil, de uma contabilidade de traficantes reforça a tese de que a volta da ação armada ao local é real.

Em folhas de caderno escritas à caneta, aparecem a destinação de R$ 30 mil para a compra de um fuzil G3 e de mais R$ 30 mil para pistolas --valor que dá para adquirir dez pistolas, dizem policiais.

A contabilidade, de acordo com a anotação, é de 8 de junho e destina R$ 194 mil para o Comando Vermelho.

O complexo de favelas sempre foi considerado o QG dessa facção criminosa.

As polícias Civil e Militar receberam a informação de que, no último dia 24, um carregamento com armas e munição chegou às mãos dos traficantes. PMs estão sendo investigados por suspeita de não reprimirem o tráfico local.

"Me preocupa o que acontece hoje no Alemão. O Estado ainda não encontrou uma resposta à altura", disse o coronel Mário Sérgio Duarte, comandante na invasão ao conjunto de favelas em 2010.


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