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'Fico cercada de fotos', diz mãe de jovem morta em GO

Familiares de mulheres assassinadas por motociclista em Goiânia relatam como convivem com a dor da perda

Foram 15 homicídios em que nada foi roubado; perfis das vítimas variam e polícia não tem explicações

DE SÃO PAULO

Bruna, 26, e Lilian, 28, viviam para criar os filhos. Beatriz, 23, cuidava dos avós doentes e de três sobrinhos. Mulheres sem desafetos, queridas por seus familiares.

Dias e até meses após serem assassinadas em Goiânia, eles tentam entender por que elas foram mortas a tiros, disparados por um motociclista, que fugiu sem levar nada.

Desde janeiro, 15 mulheres foram mortas assim. Uma das hipóteses da polícia é que seja um único assassino.

Na sexta-feira (8), a polícia prendeu um suspeito, que negou os crimes. Nem a polícia sabe o motivo das mortes.

Leia abaixo as histórias de algumas dessas mulheres.

Marlene Bernardete, 53, não desgruda os olhos da TV. Sua esperança de ter uma notícia do assassino da filha vem de um programa policial. A filha, Bruna Gleycielle Gonçalves, 26, recepcionista de academia, foi morta em 8 de maio num ponto de ônibus.

Havia ido até aquele ponto --onde levou um tiro no peito-- porque ouvira boatos de arrastões no outro, mais próximo de onde trabalhava.

Cantora da banda de uma igreja evangélica, queria prestar vestibular para educação física. Achava que personal trainer ganhava bem e prometia colocar um forro na casa da mãe, para onde havia se mudado com o filho pequeno depois de se separar.

O filho, Cristiano, tem hoje sete anos e ficou com a avó.

"Mããããe, cadê você?" O chamado carinhoso da filha Wanessa, 22, gravado em mensagem de celular, é ouvido quase todos os dias pela ex-funcionária pública Sandra Oliveira Felipe, 46.

Na verdade, é Sandra quem faz o mesmo apelo, em silêncio, procurando por Wanessa, desde que a jovem foi assassinada a tiros, em 23 de abril.

Ao acordar, assiste à missa pela TV. "Rezo por ela, para que esteja bem." Ao longo do dia, conecta o pendrive na mesma TV para rever imagens da filha. "Fico cercada de fotos." Apaixonada por animais, a jovem queria ser veterinária.

Aluna aplicada, Isadora Aparecida dos Reis, 15, ganhou um prêmio de R$ 1.200 do governo goiano pelo desempenho numa prova. Não teve tempo de receber o valor.

Sorridente e extrovertida, segundo o irmão Giovanni, Isadora foi tricampeã brasileira de capoeira, que praticava desde os quatro anos.

Quase não saía, porque o pai, protetor, não deixava. Em 1º de junho, ao voltar a pé para casa, após almoçar com o namorado, levou um tiro nas costas, de um motociclista que lhe pedira o celular. O aparelho não foi levado.

A aposentada Orestina Rodrigues, 61, ainda se lembra de ver a sobrinha-neta Beatriz Moura, 23, passando pelo portão minutos antes de ser assassinada.

"Eu regava as plantas de manhã quando a vi na rua, indo para a padaria. Ela disse: Oi, tia, bença (sic)'. Logo depois ouvi o tiro. Jamais pensaria que fosse ela."

A memória de Beatriz é a de uma menina que amava os três sobrinhos, de quem cuidava, e os avós --ela perdeu a mãe ainda criança.

Mesmo após 11 anos de convivência com o companheiro, Lilian Mesquita, 28, queria se casar na igreja.

Quando ela cobrava a formalização, o mecânico Carlos Eduardo Valczak, 34, desconversava. "Eu brincava com ela que muita gente que casa rapidinho separa."

Vaidosa, não dispensava maquiagem e mantinha os longos cabelos loiros arrumados até para ir buscar os filhos na escola, como no dia em que foi morta, em fevereiro.

Desde o dia do crime, Valczak perdeu 11 quilos. Por vezes, os filhos de seis e dez anos ficam calados, no canto. Às vezes chamam a mãe.


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