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Duelo pela Paulista

Covers de Michael Jackson e Elvis Presley disputam calçada no cartão-postal de São Paulo

RICARDO GALLO DE SÃO PAULO

O tempo fecha para "Michael Jackson", "Elvis Presley" e um grupo de artesãos na avenida Paulista nos finais de semana, quando o local fica apinhado de turistas.

Eles disputam o ponto que dizem ser o mais lucrativo para artistas de rua --a calçada em frente ao shopping Center 3, entre as ruas Augusta e Frei Caneca.

O conflito começou quando os artesãos passaram a ocupar a calçada, em outubro do ano passado, bem no lugar em que os covers de Elvis e Michael (três irmãos, na verdade) se apresentam.

Como os artesãos, alguns deles hippies, chegam cedo (às 8h) e vão embora à noite (depois das 21h), restou a Elvis e aos irmãos Michael Jackson lutar por espaço entre si.

"Nem me dá ânimo de levar os meninos mais", diz Djislani Gomes, 44, mãe de Matheus, 18, Felipe, 16, e Davi, 10, que se vestem e dançam como Michael. Eles foram os primeiros a se fixar diante do shopping, em 2011.

No sábado dia 2, por exemplo, não havia lugar e o trio só conseguiu dançar perto da rua Frei Caneca, onde, dizem, o movimento e a caixinha são bem menores --amealharam apenas R$ 25 naquele dia, ante os R$ 350 que conseguem fazer em boas localizações.

Elvis estava lá naquele sábado, mas, para tal, teve que chegar às 7h, antes dos artesãos. Ficou guardando lugar, pois só se apresentaria horas mais tarde. Os irmãos Jackson têm chegado às 11h, para, quando é possível, começar a dançar às 17h.

Se os artistas montam o palco no espaço em frente aos artesãos, estes reclamam da obstrução à passagem de seus clientes.

FAIXA DE GAZA

"Isso está virando a faixa de Gaza", diz Márcio Aguiar, 41, que se veste como rei do rock, canta e faz graças como entrar e sair dos ônibus parados no trânsito na Paulista.

O problema dele não é tanto os artesãos, mas sobretudo os irmãos Jackson, diz. "A mãe diz que o espaço ali é deles e acabou. Os hippies estão ocupando tudo, mas os irmãos Michael Jackson não se dão com ninguém."

O auge da desavença se deu três domingos atrás, quando Djislani chamou a Polícia Militar para que Elvis deixasse os filhos dançarem.

Elvis estava no local havia mais de quatro horas --período de tempo máximo para um artista de rua se apresentar num mesmo lugar, segundo decreto municipal. Foi obrigado a sair.

Há ressentimento de ambas as partes. O Elvis da Paulista diz que seu personagem é o de maior sucesso. Djislani assegura que Elvis tem ciúme dos irmãos Jackson.

"O povo do Elvis é mais elitizado. A garotada que vê os Michael não é financeiramente tão forte como a que gosta de mim", diz Aguiar, que não revela seu faturamento.

TAPETE

O rei do rock acusa os irmãos de plágio: eles teriam adotado um tapete quadriculado igual ao seu. O trio garante que foi um presente e que desconhecia o ornamento do concorrente.

No meio do duelo, sobram ofensas até para o Elvis e para o Michael legítimos. Mas o primeiro morreu em 1977, quando o segundo tinha 18 anos e ainda não havia estourado como artista solo. Eles jamais foram rivais.

Celso Reeks e Emerson Pinzindin, da associação de artistas de rua, pretendem chamar Elvis e Michael para uma tentativa de conciliação.

Para os artesãos, a rua não tem dono; assim, quem chega primeiro ocupa o lugar. "Se eu cheguei primeiro, não posso deixar alguém ficar aqui na frente, fechando o meu espaço", diz Michele Peres, 24. Diego Palmares concorda: "Uma arte não vale mais do que outra".

A Prefeitura de São Paulo informou que um grupo irá propor até setembro regras para disciplinar o trabalho dos artesãos. Relatou já ter recebido reclamação de pedestres, pois a circulação fica prejudicada. O Center 3 não quis se pronunciar.


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