Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Foco

Paulista de São Carlos fez pin-ups ao estilo brasileiro

REGIANE TEIXEIRA DE SÃO PAULO

Meio assanhadas, meio inocentes, sempre curvilíneas. Essas eram as mulheres que apareciam nos calendários carregados pelos soldados americanos durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45) --e que passaram a decorar casas e comércios brasileiros alguns anos depois.

Numa época em que mostrar as coxas era motivo para escândalo, a silhueta feminina foi materializada nas chamadas pin-ups.

Saindo dos fronts da guerra, as ilustrações ganharam rapidamente as campanhas publicitárias.

Um dos responsáveis pela adaptação do estilo americano à realidade brasileira foi Vicente Caruso (1912-1986).

Entre as décadas de 1940 e 1970, o artista ilustrou dezenas de "folhinhas" --como eram chamados os calendários. As peças eram encomendadas e distribuídas por grandes marcas, especialmente as que tinham forte identificação com o público masculino.

Para a Goodyear, por exemplo, em homenagem ao 4º Centenário da cidade de São Paulo, em 1954, Caruso criou a pin-up paulista, que pode ser vista nesta página.

Na ilustração, a bandeira do Estado descortina uma nova cidade --onde se veem construções icônicas do horizonte paulistano, como o Banespão, concluído em 1947, o Martinelli (1934) e o prédio do Banco do Brasil (1954).

Um quadro pendurado no apartamento da moça remonta à fundação da capital, com a catequização dos índios pelos jesuítas.

Outros trabalhos mostram caipirinhas, índias e jovens da sociedade em cenários como cafezais, praias e aldeias.

Além da cultura e dos costumes, o artista trabalhou a anatomia da brasileira.

"Enquanto os americanos se importavam com os seios, ele focou o quadril das personagens", conta o neto João Roberto Caruso, 54.

IRMÃOS PINTORES

Nascido no interior de São Paulo, em São Carlos (a 232 km da capital), Vicente foi, durante grande parte de sua vida, um paulistano --morando em bairros como Ipiranga, Aclimação e centro. Sua última morada foi a rua Augusta, onde mantinha um ateliê.

Gostava de visitar museus na Espanha e na Itália e de tirar fotografias. "Nas horas vagas, cantava ópera", lembra o sobrinho Rubens Caruso, 52, que que mantém o site www.pintorescaruso.com.br.

Filho do italiano Florencio Caruso, Vicente era o terceiro de nove rebentos --oito deles eram habilidosos com o pincel. Um dos irmãos, Salvador, teria produzido cartazes convocatórios para a Revolução de 1932.

Nenhuma das pin-ups criadas por Vicente, no entanto, é a obra mais conhecida dele. O recorde de popularidade do pintor paulista é uma representação de Jesus Cristo, feita para uma editora católica em 1980.

Naquela época, ele havia deixado de fazer "folhinhas" para se dedicar a retratos e pinturas de natureza-morta. Nunca teve o trabalho reconhecido no circuito artístico. Segundo o neto, "ele se ressentia com isso".


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página