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Em festas, alunas expulsam autor de assédio

Estudantes da USP se organizam para "escrachar" homens que tentem praticar abuso sexual durante eventos

Medida foi criticada por integrante de coletivo feminista da universidade por ser um método 'violento'

DE SÃO PAULO

Em meio a relatos de abuso sexual, algumas alunas já se organizam nas festas dentro do campus para "escrachar" homens que sejam identificados como possíveis agressores. Após serem abordados, os suspeitos são expulsos pelas mulheres.

"A segurança auto-organizada é a única que a gente tem", afirmou à Folha uma aluna do curso de audiovisual, que pediu anonimato por medo de represálias.

Segundo ela, dois homens foram retirados pelas alunas de uma festa da faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, em 19 de setembro.

A Folha presenciou a retirada de um deles. Enquanto era levado para fora por um grupo de mais ou menos dez meninas, o rapaz tentou pegar uma pedra e agredir a aluna que caminhava ao seu lado, mas foi imobilizado pelas demais estudantes.

Em alguns casos, alunas fazem uma reunião antes das festas para vetar a entrada de potenciais agressores.

Pelo microfone, também anunciam que "agressões machistas e racistas não serão toleradas".

"Como elas não têm apoio nas unidades, tem optado pelo escracho", afirma Heloísa Buarque, responsável pelo USP Diversidade, programa implementado no ano passado para combater a discriminação na universidade.

A medida, no entanto, é polêmica. "O escracho virou uma ferramenta pra tudo", diz Isadora Szklo, 22, da Frente Feminista da USP.

"Não que eu ache que tem que haver diálogo com agressores de mulheres, mas como é um método violento, é muito fácil a reação do cara ser violenta".

'ABAFADOS'

Em algumas unidades da USP, como na Faculdade de Medicina, ocorrências e denúncias de abuso foram o pontapé para o surgimento de coletivos feministas.

A reclamação é que os casos de violência sexual são "abafados" e falta apoio da universidade para coibir novas agressões.

A estudante de medicina Ana (nome fictício) afirma ter sido vítima de estupro em uma festa dentro da unidade há três anos. Desde então, sua rotina mudou.

"Eu tinha muita vergonha de circular pela faculdade. Muitas vezes, sem saber que era eu, as pessoas comentavam do meu caso, de forma distorcida", relata.

"Foi difícil levar os primeiros anos depois disso, e ainda penso em desistir da faculdade. É uma batalha diária."

Após o ocorrido, Ana afirma ter sido procurada por outras meninas com relatos semelhantes.

Uma delas é Carolina (nome fictício). Em uma festa no fim de 2013, ela afirma ter sido vítima de abuso no estacionamento da faculdade.

"Começaram a forçar a barra, a me beijar à força e a colocar a mão dentro da minha calça. E eu gritava que não queria aquilo, e eles mandavam eu parar de gritar", diz ela, que conseguiu sair após uma amiga chegar no local.

"É complicado, porque se você não se sente à vontade e seguro dentro da faculdade, onde vai se sentir seguro?", afirma Ana. (ANGELA BOLDRINI E NATÁLIA CANCIAN)


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