Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Técnica 'recicla' poluição para formar imagens

SILAS MARTÍ DE SÃO PAULO

Não parece, mas o monte de crânios que Alexandre Orion desenhou em túneis de São Paulo ressurgiu no rosto fofinho de uma menininha em seu mais novo mural.

Há quase dez anos, Orion ficou famoso com uma ação em que limpava com um pano a fuligem acumulada nas paredes de túneis da cidade, numa espécie de grafite negativo. Os desenhos de "Ossário", como batizou a série, eram caveiras empilhadas.

Desde que adotou a técnica, o artista percebeu que era possível reciclar a poluição.

Ele lava os panos sujos de pó preto, deixa decantar a água por dois dias até que se forme uma crosta rígida, que compara à terra rachada do agreste nordestino, e amassa tudo isso até virar um pó.

Em seu último trabalho, Orion transforma o grafite negativo em pintura, usando esse resíduo --uma análise científica concluiu que 60% do pigmento é composto metálico e o resto, componentes orgânicos-- para pintar uma menina que destrói casinhas numa parede do CEU Navegantes, no Grajaú.

É por isso que seu desenho é preto e branco, já que a poluição só existe num único tom. Ele alcança os contrastes desse mural pintando primeiro uma base branca sobre a parede e depois variando a quantidade de fuligem e verniz que aplica para criar suas gradações sutis de cinza.

"Quando você olha esse mural, pode saber que os crânios estão grudados aí", diz.

Na superfície, nada no novo mural remete à natureza tétrica de "Ossário", até que se observe com mais atenção.

Sua menininha, na verdade a filha do artista, é uma criança que brinca com o que seriam casinhas de brinquedo, mas está, na verdade, destruindo construções.

Nesse sentido, sua técnica de transformar o lixo dos escapamentos em obra de arte sublinha aqui uma tensão tão densa quanto a poluição no ar paulistano. "Essa é a merda que a gente respira. O que eu faço é desenhar com a mecânica da cidade."


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página