Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Cotidiano

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

'Sei que as tarefas não são simples', afirma Haddad durante a posse

Leia abaixo a íntegra do discurso do novo prefeito de São Paulo

Senhor governador, senhor prefeito, às vésperas do segundo turno houve uma manifestação espontânea na cidade de São Paulo, nas imediações da praça Roosevelt. Manifestação espontânea que contou com a moderna tecnologia da informação para a sua convocação. As redes sociais convocaram a cidadania paulistana com um lema, um lema que me tocou muito profundamente, porque nós falamos de algumas dezenas de milhares de paulistanos e paulistanas, moradores de São Paulo: "Existe em amor em São Paulo". Esse era o lema da convocação. E eu entendo que talvez durante toda a campanha essa manifestação não partidária, essa manifestação que não procurava angariar votos para um ou outro candidato que disputava o segundo turno, diz muito sobre o que a cidade de São Paulo espera de nós. Tratava-se de um grupo bastante expressivo da cidade que tinha nesse lema um pedido para aquele que fosse eleito no domingo seguinte: cultivar a solidariedade, cultivar a diversidade, cultivar o amor ao próximo, que diz tanto sobre a nossa cidade.

Muitas vezes nós vemos as cidades, em geral, e as metrópoles, em particular, como locais onde só existe espaço para o egoísmo, só existe espaço para os projetos individuais. Mas nós sabemos que não é assim. Cada projeto individual, para a sua realização, depende do projeto coletivo, depende do funcionamento da cidade, depende da generosidade dos cidadãos uns para com os outros. E essa juventude foi à praça manifestar o desejo de viver numa cidade melhor. E a cidade, se nós pensarmos mais profundamente no significado profundo desse engenho humano, talvez o maior engenho humano de todos os tempos, é por excelência o local do altruísmo. É o local do altruísmo porque é nas cidades que se produz conhecimento, é nas cidades que se produz a cultura, é nas cidades que os homens honrados fazem a boa política, a política para transformação da vida de cada um e sobretudo dos desfavorecidos.

A cultura, o conhecimento e a política dependem desse gesto de solidariedade, dependem dessa postura de cada cidadão em relação ao seu semelhante, dependem de um grau elevado de interlocução com os entes federados, com aqueles que deixaram os seus cargos, com aqueles que vão assumir futuramente as funções de liderar os processos voltados à melhoria das condições de vida da nossa população.

E o que eu entendo que seja o recado dessa eleição é justamente o de buscar um ambiente melhor para que possamos viver bem, para que nós possamos dar o melhor de nós mesmos para nossa coletividade. Isso exige muito dos governantes, isso exige uma dedicação permanente, da hora que se levanta à hora que se vai deitar, aos interesses públicos da cidade de São Paulo.

Uma cidade com problemas elevados, complexos, para os quais o empreendedorismo, o engenho dos paulistanos, há de propor soluções inovadoras.

Aqui se produz um a cada oito reais produzidos no Brasil. Nós estamos falando de um pedaço de chão, 1.500 quilômetros quadrados apenas, contra 8,5 milhões de quilômetros quadrados do nosso país. Em apenas 1.500 quilômetros, uma fração diminuta do nosso território, nós produzimos 12% da riqueza nacional. A pergunta que cabe é: será que estamos devolvendo para a nossa cidade tudo aquilo que ela faz para o desenvolvimento dela própria, do Estado e do país? Eu penso que é o momento de resgatar o desenvolvimento humano econômico sustentável da nossa cidade. É o momento de olhar de frente para os nossos problemas, não para aceitá-los, mas para reconhecê-los e superá-los.

O primeiro deles, sem sombra de dúvida, é o enfrentamento da miséria extrema que ainda existe na nossa cidade.

Eu penso que todos os que estão nessa sala, aqui no Palácio ou nas ruas, sabem do que eu falo. Não é possível conviver por mais tempo com tanta desigualdade, com tanto descaso, com tantas mazelas. Crianças brincando em esgoto a céu aberto, crianças sem vaga nas escolas, crianças e mães com dificuldade de exercer plenamente a sua cidadania, trabalhadores desamparados, cidadãos com dificuldade de acesso aos seus direitos fundamentais. Existe ainda muita miséria na cidade de São Paulo. E nós temos que lutar todos os dias desse mandato contra a miséria da cidade. Vamos identificar as pessoas, vamos fazer uma busca ativa, vamos reconhecê-las, vamos interagir com o governo do Estado e com o governo federal. Vamos equacionar esse problema. Vamos dar um exemplo de como o programa federal de erradicação da miséria pode apresentar o seu primeiro resultado pleno na cidade mais rica do país. Nós temos que perseverar nesse caminho.

A segunda dimensão, tão importante quanto essa, é aquela que foi citada pelo prefeito Kassab. São Paulo, apesar do seu orçamento bilionário, um dos maiores do país, hoje perdeu a sua capacidade de investimento em função de um acordo de dívida literalmente insustentável, hoje e no futuro. Não há a menor condição de levar à frente esse grande empreendimento que é a nossa cidade sem repactuarmos o contrato da dívida com o governo federal. Ele não se sustenta, e isso tem que ser dito com todas as letras. Nós temos que levar ao Congresso Nacional, com todas as tratativas com o governo federal, com o ministro Guido Mantega, uma proposta de repactuação da dívida federativa, de Estados e municípios, e o mais prejudicado é o município de São Paulo. Nós não podemos conviver com uma divida que é 200% da nossa arrecadação e que compromete toda a capacidade de investimento. E quando eu falo de investimento público eu também estou falando de solidariedade, de generosidade, de fraternidade. Porque é o investimento público que redime muitos dos males da nossa cidade. O que é o investimento público se não o esforço coletivo para a distribuição de bens públicos para toda a sociedade? Um esforço coletivo que cada um contribui com o que pode para aquelas obras necessárias a toda a cidadania, independentemente da cor, independentemente da renda, independentemente do bairro em que mora. Nós temos urgentemente que recuperar essa capacidade de investimento. E, senhores, senhoras, não bastará apenas a troca do indexador da nossa dívida. Nós vamos ter que buscar as parcerias necessárias, tanto com o governo do Estado quanto com o governo federal.

Assim como no âmbito das parcerias público-privadas com a iniciativa privada, com os empreendedores da cidade, para recuperar o investimento que vai trazer benefícios para toda a sociedade paulistana.

Em terceiro lugar, a qualidade dos serviços públicos, com ênfase para a saúde e educação. Nós temos que, também nesse particular, dar o exemplo de que é possível o Estado oferecer bons serviços públicos nessas áreas que são absolutamente prioritárias para a cidadania paulistana. Nós somos a cidade mais rica do Brasil. Por que não oferecermos a saúde e a educação mais ricas do país? Temos que ter compromisso com as metas de qualidade tanto de saúde quanto de educação e colocar São Paulo na vanguarda dos serviços públicos de qualidade.

A quarta referência que eu gostaria de fazer, a questão da moradia, que eu combino, como vocês sabem, porque deixei expresso na campanha eleitoral, com a questão ambiental. A questão da moradia em São Paulo não é apenas social, ela é ambiental. Se nós fizermos mais parques, mais áreas verdes, mais saneamento básico, menos poluição, menos necessidade de longos deslocamentos, sobretudo em veículos, em transporte individual, nós temos que ter um grande projeto habitacional. E também nesse caso a parceria com o governo do Estado e a parceria com o governo federal vão se impor como uma necessidade das características da cidade, porque uma das características de São Paulo é o alto preço da terra e ainda há indisponibilidade de terra na cidade de São Paulo para que nós possamos enfrentar esse desafio. Vamos dar as mãos ao governador Alckmin e à presidenta Dilma Rousseff nesse esforço de trazer moradia digna para o povo da nossa cidade. E, governador, eu quero lhe deixar claro, o senhor que falou numa atitude suprapartidária republicana: eu não posso, não devo e não farei, não recusarei um único centavo do governo do Estado, um único centavo do governo federal, que é de direito do povo paulistano. Independentemente de bandeira partidária, de crença religiosa. O Brasil, a democracia brasileira, já amadureceu suficientemente para nós sabermos a hora de discutirmos divergências e a hora de somarmos forças em proveito da cidade, do Estado e da nação. O pacto federativo precisa ser redesenhado, mas a primeira providência para o redesenho do pacto federativo é uma mudança de postura da própria classe política em relação a ela mesma. O senhor terá em mim, governador, um parceiro da cidade, um parceiro do Estado e um parceiro do país. Quero dar as mãos ao senhor para trazer os benefícios que esse povo trabalhador de São Paulo tanto merece e tanto anseia.

Eu sei que as tarefas não são simples. Há muitas outras a serem citadas. Eu falei da produção de conhecimento, da produção de cultura, como essência da própria cidade, a cidade não funciona, não apenas sem os empreendimentos que são conhecidos de todos, mas sem produção de conhecimento e cultura. Nós temos que patrocinar um ambiente favorável para que isso floresça cada vez mais, para que a força de São Paulo se expresse na produção científica, na produção cultural. E muito fará a Prefeitura de São Paulo se seguir o seu caminho de promover a cidadania no âmbito da cultura e da ciência. Nós somos, além de um centro produtor de serviços, financeiros inclusive, além da capital financeira do país, nós somos um centro irradiador de cultura e de conhecimento para o Brasil e para o mundo. Temos em nosso território a principal universidade da América Latina. Não falta inteligência disponível nem criatividade disponível na cidade de São Paulo. Muitas vezes falta articulação, e aí também cabe ao poder público convocar as lideranças científicas e artísticas para promover o bem-estar.

A cidade é, sobretudo, o gozo, o encontro, o prazer da convivência, e a cultura e a ciência são ingredientes fundamentais desses eventos que tanto prazer causam a cada um de nós.

Eu sou daqueles que acredita não apenas que haja amor em São Paulo. Eu acredito que esse amor está pronto para se manifestar com cada vez mais força, com cada vez mais presença na nossa cidade. E, da mesma maneira que eu estendo a mão ao governador, ao ministro José Eduardo, representando a ministra Dilma, fiz o mesmo em relação à Câmara dos Vereadores. Reconheço a total legitimidade da Câmara dos Vereadores para propor projetos e para aperfeiçoar os projetos de iniciativa do Executivo. Nós dependemos de uma Câmara forte e atuante para aprovarmos as leis necessárias para a atualização de São Paulo. E talvez a mais importante delas não seja uma lei, mas um conjunto de leis que eu traduzo como a reforma urbana que São Paulo precisa para se reordenar do ponto de vista do seu desenvolvimento. Todos nós, governantes, queremos fazer um pouco mais do que os nossos antecessores fizeram. É assim que funciona a democracia para o bem. É assim que vai funcionar a nossa gestão. Vamos procurar fazer mais, mas não basta o mais quantitativo. São Paulo está pronta para uma reforma. São Paulo está pronta para repensar o seu desenvolvimento. E eu penso que o maior legado que a Câmara dos Vereadores pode nos oferecer, sem sombra de dúvida, é um conjunto de normas, é um conjunto de leis, que apontem uma visão de longo prazo para a cidade de São Paulo. A maneira como a cidade se desenvolveu nos últimos 80 anos, desde Prestes Maia, se esgotou. Nós temos de repensar o desenvolvimento da cidade. E aqui não vai nenhuma acusação a quem quer que seja, ao contrário. É um reconhecimento que, se não fosse feito por nós, seria feito por qualquer prefeito eleito. A ideia de que nós precisamos rever a legislação urbana, começando pelo Plano Diretor, mas dar para a cidade uma visão do seu próprio futuro. Que faça o morador da cidade se sentir confortável de que vai morar numa cidade cada vez melhor, que funciona cada vez melhor, que oferece cada vez mais serviços públicos de qualidade para seus filhos, para seus netos e para sua família. Eu tenho certeza absoluta que nós temos condição de construir essa nova São Paulo. Não com a arrogância de um partido, não com a arrogância de uma pessoa, não com arrogância, muito pelo contrário, com humildade e com reconhecimento de que todos os que passaram por aqui tentaram oferecer o seu melhor, mas é hora de oferecer mais do que isso. São Paulo está cheia de expectativa, e nós temos toda condição de oferecer a ela o futuro que a recoloque ao encontro do seu vigor, da sua força e da sua generosidade. Amemos a cidade de São Paulo. Viva São Paulo. Muito obrigado.

Ouça os discursos de Haddad ontem

folha.com/no1208896


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página