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Exposição dá status de obra de arte para objetos da periferia
AMANDA KAMANCHEK COLABORAÇÃO PARA A FOLHA"É puro Duchamp, só que muito melhor." Foi como o filósofo espanhol Eduardo Subirats descreveu uma churrasqueira feita com calota de pneu e lata de tinta usada.
O objeto faz parte da mostra de arte "Design da Periferia", que abre amanhã, no Pavilhão das Culturas Brasileiras, dentro do parque Ibirapuera, na zona sul de São Paulo.
A exposição mapeia invenções de moradores da periferia em diversos pontos do país, do Campo Limpo, na zona sul de São Paulo, a Nova Olinda, no sertão do Ceará.
Os objetos vão de latas feitas para armazenar a comida dos ambulantes a móveis refinados e fotografias.
Assim como o mictório, que Marcel Duchamp enviou para uma exposição em Nova York no século passado, alguns objetos não parecem ter o status de arte, mas têm, garante a curadora Adélia Borges.
Em Salvador (BA), o comerciante Paulo Cezar de Jesus, 44, além de criar gavetas para guardar doces e um típico conhaque de alcatrão, faz pinturas em seu carrinho de vendas que ora lembram a arte concretista de Lygia Clark ora ressaltam o barroco, na riqueza de detalhes.
"Não se trata só de funcionalidade, as invenções têm uma expressão artística", diz a curadora Adélia Borges.
Bancos feitos com galhos de árvores lembram as últimas invenções da Bienal de Design. "São até melhores", brinca a curadora.
E a moda não fica de fora. Tem vestimentas de vaqueiros do Ceará e também a última moda da periferia paulistana.
Guma, 34, morador do Campo Limpo, em São Paulo, fotografa as roupas estilizadas e cabelos dos moradores de seu bairro.
"[Nas fotos] Ninguém é profissional. São cozinheiros, balconistas de bar, pessoas comuns, que se destacam pelo modo como se vestem."