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Mães fazem maratona para internar filhos viciados

Centro estadual vira ponto de peregrinação

GIBA BERGAMIM JR. TALITA BEDINELLI DE SÃO PAULO

Maria de Lourdes Oliveira, 49, chegou ao plantão judiciário para internação de dependentes químicos na última quinta-feira com um dos filhos em surto, após o uso de crack. Conseguiu interná-lo.

Seria uma vitória, mas faltava internar o segundo filho, que até a noite de sexta permanecia nas ruas atrás de drogas.

O drama de Lourdes se misturou ao de dezenas de mães que foram ao Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas), no Bom Retiro, centro de São Paulo, durante a semana para internar seus filhos "à força".

Desde segunda, o serviço tornou-se uma espécie de "meca" dos familiares de dependentes químicos, um ponto de peregrinação de mães e pais em busca de uma solução para o vício dos filhos.

No local, o governo estadual montou um plantão jurídico (com juiz, promotor e advogados) para agilizar as internações compulsórias (contra a vontade do usuário, mas com autorização judicial) e involuntárias (à força, mas sem autorização judicial).

O filho de Lourdes é Salomão, 25, que, com a internação, deixou para trás uma dívida com traficantes. "Já tem gente atrás dele, cobrando o crack que ele não pagou."

Marcelo, 29, o outro filho, perambula pela região do Jardim Peri (zona norte), onde mora, em busca de pedras.

Lourdes, que em 1998 teve outro filho assassinado por traficantes, aguarda a ida de agentes de saúde ao local para uma avaliação do rapaz.

PERTO DA MORTE

"Preciso tirar minha filha hoje da rua. Se não tiver ninguém que interne minha filha, ela vai morrer", dizia a camareira Maria do Rosário de Oliveira, 48, na porta do Cratod, na última quinta.

A filha, Gissely Aparecida Leite, 29, é viciada em crack e se recusa a ser internada. A mãe foi em busca de ajuda e queria interná-la à força."Ela já roubou, se prostitui, tentou matar o marido, também usuário, e quase foi morta por ele."

Na quarta, ela já havia ido ao Cratod tentar a internação, mas foi aconselhada a voltar no dia seguinte e se consultar com o juiz. Na quinta, esperou o dia inteiro e não conseguiu.

Segundo o governo do Estado, a avaliação da equipe médica e do Judiciário foi de que o caso não se enquadra numa situação grave para internação involuntária.

Janicleide Xavier, 40, comemorou a internação do filho, Jeferson, 23, na quarta. A alegria durou pouco. O jovem fugiu do Cratod logo no dia seguinte, mas acabou encontrado ontem à tarde em Heliópolis, na zona sul.

Janicleide reclama que foi informada, pelo Cratod, que um BO tinha sido registrado, mas que isso não foi feito. "Liguei para o DHPP e disseram que ninguém registrou o BO. Eles deixaram meu filho escapar e nem BO fizeram?"

A Secretaria de Estado da Saúde informou que não foi feito BO, mas que o caso foi comunicado ao comando da PM.

Diante dos pedidos das mães, o juiz Samuel Karazin determinou que agentes de saúde do Estado fossem até os pontos indicados por elas avaliar a internação. "Se avaliar que é necessário, o agente já leva para internar", disse. O Estado pode ser multado caso não envie os agentes.


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