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Entrevista Soraya Soubhi Smaili

Expansão da Unifesp não teve planejamento suficiente

Primeira mulher a comandar universidade, farmacêutica foi grevista em 2012 e critica falta de estrutura em novos campi

LAURA CAPRIGLIONE DE SÃO PAULO

Pela primeira vez, a Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), instituição nascida da tradicional Escola Paulista de Medicina, uma das mais reputadas faculdades do país, terá uma mulher à frente da reitoria. Também inédito é o cargo máximo da universidade ser ocupado por docente oriundo de faculdade outra que não a medicina.

Empossada na última semana pelo ministro da Educação, Aloizio Mercadante, a farmacêutica Soraya Soubhi Smaili, 50, graduou-se pela USP, tem mestrado e doutorado em farmacologia, além pós-doutorado, obtido na Universidade Thomas Jefferson e nos Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos.

Ao currículo acadêmico, Soraya soma vasta experiência como sindicalista. Foi presidente da Associação dos Docentes da Unifesp (2001-2003), vice-presidente por duas gestões, e diretora regional do Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino Superior.

Durante a paralisação das atividades didáticas nas federais, no segundo semestre de 2012, a nova reitora foi grevista. "Eu acato as decisões da minha categoria. Sempre acatei. Faz parte da minha trajetória política", disse.

Soraya venceu a consulta realizada entre professores, estudantes e funcionários, logo depois da greve, e encabeçou a lista tríplice enviada ao MEC. Mercadante seguiu a decisão da comunidade.

Agora, caberá a ela administrar o orçamento anual de R$ 621 milhões (ou R$ 145 milhões, descontada a folha de pagamentos de ativos e inativos) e lidar com as demandas de 10 mil alunos de graduação, 3.500 de pós, 1.300 residentes, 4.000 funcionários e 1.500 professores. E prosseguir com o processo de expansão da universidade, que já dura dez anos.

A nova reitora é uma crítica ácida da forma como foi feita a expansão que levou a Unifesp a ter hoje campus em seis cidades paulistas -e está prevista a construção de mais um campus, na zona leste de São Paulo. "Não houve o planejamento suficiente para propiciar uma expansão ordenada do sistema", sentenciou. Abaixo, os principais trechos da entrevista:

Folha - Alunos reclamam que existem duas Unifesps: a dos ricos (representada principalmente pela medicina, no campus de São Paulo) e o resto. A senhora concorda?

Soraya Soubhi Smaili - O campus de São Paulo é o que tem mais professores titulares, é o berço da Unifesp. É natural que esteja mais estruturado. Mas não era necessário que os novos campi enfrentassem os problemas que enfrentam.

A senhora poderia explicar?

Veja a situação do campus de Diadema [Grande São Paulo]. Construiu-se uma unidade para abrigar salas de aula, o chamado Complexo Didático. Foi inaugurado no fim do ano passado, quando a greve estava começando. A presidente Dilma [Rousseff] viria para a cerimônia, mas cancelou porque estavam previstas manifestações. Porque o complexo, que fica em um local ermo, no alto de uma ladeira... bem, a água acaba, não tem lanchonete, não tem estrutura de alimentação, não tem acessibilidade para cadeirantes. Está muito complicado para os alunos.

E para os docentes?

A parte de pesquisa foi instalada ao lado de uma fábrica pertencente ao governo federal. Lá, um terço dos professores tem suas salas. Mas dois terços não têm nem sequer onde sentar. Não têm onde fazer o trabalho intelectual ou atender seus alunos.

Acontece o mesmo nos demais campi?

O campus de Osasco é outro problema. Temos o terreno mas, como não estava sendo usado, foi ocupado pelos sem-teto. Agora, recentemente, a União doou um terreno em Santos, para a construção do Instituto do Mar (que se especializará em engenharia de petróleo, de portos, oceanografia e pesca, visando à exploração do pré-sal). Vários desses cursos já começaram a funcionar, em um prédio alugado, inclusive com a contratação de professores. A preocupação é que se repita a situação já verificada, ou seja, que a infraestrutura chegue muito atrasada.

Como essa improvisação vem se refletindo nos cursos?

Apesar de a Unifesp ter 4.000 funcionários, a maioria está alocada no hospital universitário, o Hospital São Paulo, que precisa mesmo de um grande número de servidores, já que é o segundo maior hospital público de São Paulo. Nos novos campi, entretanto, faltam funcionários. Para se ter uma ideia, há quase 2.000 estudantes no campus de Diadema e só 80 funcionários. Nem as secretarias acadêmicas estão conseguindo mais atender.

É dramático.

Fala-se em índices de evasão estudantil altíssimos nos novos campi.

Guarulhos, onde ficam os cursos de humanas, e que concentra os alunos mais pobres, chegou a ter evasão de mais de 60% em alguns cursos. É falta de moradia estudantil, falta de restaurante, falta de planejamento necessário à expansão ordenada do sistema. O vestibular nacional foi uma grande conquista e democratizou o acesso. Mas agora temos de democratizar a permanência. Precisamos ter a capacidade de receber o estudante do Pará, ou do Rio Grande do Norte, ou da periferia de São Paulo, e possibilitar que ele permaneça conosco.

Então a senhora é contra a expansão?

Não. Inclusive estamos envolvidos com a construção do novo campus da Unifesp, na zona leste de São Paulo. É claro que a expansão foi incrível, permitiu oxigenar a universidade, trazer elementos e preocupações novas, mas poderia ter sido feita de forma diferente. Em todo o país, há vários cursos que foram abertos sem corresponder à demanda da sociedade.

A reitora de Rondônia citou um curso de lá que teve duas pessoas interessadas. Você abrir cem vagas e depois constatar que não existe demanda?

É um desperdício de recursos públicos.


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