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Condenado a 33 anos, Gil Rugai recorre livre
Por 4 votos a 3, jurados concluíram após cinco dias de julgamento que réu matou o pai e a madrasta em 2004
Por ser réu primário, ele não será preso imediatamente; para juiz, Rugai é 'perigoso' e 'dissimulado'
Nove anos depois do crime, Gil Rugai, 29, foi condenado ontem em São Paulo a 33 anos e 9 meses de prisão pelo assassinato de Luis Carlos Rugai, 40, seu pai, e Alessandra Troitino, 33, sua madrasta.
A decisão dos jurados foi apertada: 4 votos a 3. Gil terá, no entanto, o direito de recorrer em liberdade.
A maioria do júri entendeu que ele matou a tiros o casal, na casa onde viviam em Perdizes (zona oeste), em 2004.
A maior parte também considerou que o crime foi cometido por motivo torpe: a expulsão de Gil de casa e da empresa de seu pai após a descoberta de que havia desviado dinheiro da companhia.
Em sua sentença, o juiz Adilson Paukoski Simoni afirmou que Gil manteve, nos cinco dias do julgamento, uma "aparência de bom moço, o que demonstra sua personalidade intensamente dissimulada".
Ainda segundo o magistrado, isso confirma que ele é uma pessoa "extremamente perigosa".
O rapaz terá o direito de recorrer em liberdade por ser réu primário e por causa de recursos, em tramitação no Supremo, sobre prisões decretadas anteriormente no caso.
CONFUSÃO
A sentença do júri foi marcada por confusão no Fórum da Barra Funda (zona oeste).
Após os debates entre acusação e defesa, o juiz se dirigiu às 16h à sala secreta com os jurados, onde houve a votação.
Às 16h25, o promotor Rogério Leão Zagallo subiu ao plenário e fez um gesto com os punhos fechados, celebrando a vitória. Depois, desceu à plateia e abraçou a mulher,, com os olhos marejados. Ouviu dela um "parabéns".
As partes ficam sabendo da decisão antes do público.
O gesto do promotor causou comoção entre as 260 pessoas que assistiam à sessão.
Parte aplaudiu. Outra repudiou. Uma pessoa gritou: "Absurdo!". Outra: "Justiça!". E uma gritaria generalizada começou.
O magistrado pediu então que os seguranças retirassem todos do plenário, enquanto calculava a pena.
CALMA
Do lado de fora, o advogado Thiago Gomes Anastácio abraçou Léo Rugai, irmão de Gil. Ambos estavam emocionados. A cena foi aplaudida por parentes e amigos.
Na outra porta, o promotor abraçava o delegado Rodolfo Chiareli, que conduziu o inquérito. Ouviu de uma pessoa: "Você é um pilantra sem ética. Nunca vi um promotor sair comemorando a sentença".
O julgamento só foi retomado às 18h46, com a leitura da sentença.
Gil escutou o juiz aparentando calma e com a cabeça erguida, como em grande parte do julgamento.
Sua mãe, Maristela Grego, e seu irmão ficaram na plateia impassíveis; depois, foram abraçados por parentes.
DEBATES
O júri foi convencido pela argumentação do promotor, que se alternou entre gritos e sussurros. "Jurados, foi o Gil Rugai. Não há dúvidas."
Primeiro a falar, ele apresentou aos jurados um Gil Rugai de "personalidade dupla, com um perfil que tangencia entre a normalidade e psicopatia".
Mostrou depoimentos de conhecidos que disseram que ele afirmara que "seria mais feliz se o pai morresse" e se referia a Luis como "fedido".
A defesa tentou deixar os jurados em dúvida. Disse que a polícia falhou em comprovar as fraudes financeiras.
Também mostrou uma conta telefônica de um vizinho, que teria ligado para um vigia da rua logo após ouvir os disparos. A ligação, segundo a conta, foi às 22h13.
Às 22h10, Gil estava em sua empresa, nos Jardins, conforme outra conta que mostrava uma ligação que fez de um telefone fixo para uma amiga.