Folha de S.Paulo

Animale faz mix de consumo fácil e traços autorais

VIVIAN WHITEMAN COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A grife Animale vem, ano a ano, ganhando espaço na linha de frente da São Paulo Fashion Week. Carro-chefe de luxo do grupo de mesmo nome (que inclui ainda as grifes Priscilla Darolt, A.Brand, FYI e a gigante Farm), a marca abriu ontem a edição de verão 2013/2014 do evento.

Não foi a primeira vez que a Animale ganhou o direito de abrir a SPFW, mas, desta vez, a escolha faz mais sentido. O evento vive uma fase aguda de mudança de posições, determinada, sobretudo, pelo mercado.

É a era da ascensão dos grandes grupos e das grifes comerciais (como a Cori, que voltou à SPFW e também desfilou ontem).

O movimento vem para substituir as ondas de emergência de novos talentos "individuais", de novos gênios fashion, como ocorreu principalmente na década de 1990. Foi nessa época que, do no cenário brasileiro, despontaram nomes como Alexandre Herchcovitch.

O desfile da grife, como tem ocorrido, faz um mix do olhar de uma consumidora acostumada às facilidades de uma vitrine de shopping (tudo mastigadinho, tendências claras, look completo para sair usando) com o processo de criação da estilista Priscilla Darolt.

Ela tem consolidado a sua carreira na Animale.

Surgiu com destaque na geração 2000, oriunda da mostra de jovens talentos Amni Hotspot. Chegou a desfilar algumas temporadas na SPFW, vendeu a sua grife e atualmente não está mais no evento com sua marca própria, que anda meio congelada. Fala-se em reestruturação, mas sem prazo.

Muitos colegas de Priscilla, alguns promissores e talentosos como Fábia Bercsek, saíram da semana de moda e sumiram do mercado. A maioria sobrevive com negócios invisíveis para a grande concorrência e longe do circuito dos ateliês.

Agradem ou não aos críticos, todas as experiências de desconstrução, muitas das texturas e peças-armadura que a Animale apresenta em seus desfiles vêm do trabalho original de Priscilla, ecos daquele que ela mostrava anos atrás, ainda no Hotspot.

Há coerência e boa parcela desse trabalho no sucesso comercial da grife.

É uma trajetória que merece ser observada, de alguém que se adaptou bem à mistura de autoralidade e mercado competitivo.