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De pernas para o ar

Spa recém-aberto em São Paulo vende terapia na qual o cliente dorme com as pernas para cima em macas especiais; neurologistas questionam o método

HELOÍSA NEGRÃO JULIANA VINES DE SÃO PAULO

O cheiro de sálvia toma conta da cabine de 10 m². Luzes coloridas alternam lentamente entre o vermelho e o azul. No meio da sala, a maca, que mais parece uma cama, está preaquecida.

"Pode tirar a sua roupa e deitar ali", diz a fisioterapeuta do Yelo Spa, rede com sede em Nova York que chegou a São Paulo no início do mês e tem como destaque a "terapia do cochilo" --pacote que inclui massagem e soneca.

A diferença para as já conhecidas cabines de cochilo é que, no spa, o cliente é colocado para dormir em macas eletrônicas que levantam as pernas acima da altura do tronco. Na posição, chamada de "gravidade zero" pelo spa, pode-se cochilar por até uma hora a R$ 2 o minuto.

A reportagem testou a terapia e, ainda que tenha tentado resistir, não conseguiu ficar de olhos abertos.

Após os minutos de sono, a fisioterapeuta volta à cabine e acorda o cliente. O despertar, porém, ganhará ares tecnológicos em breve: uma máquina que clareia a sala lentamente, imitando o nascer do sol, foi encomendada.

PARA O ALTO

"Ficar com as pernas para cima melhora a circulação", diz Maria Carolina Fuoco Fernandes, fisioterapeuta do Yelo Spa. Segundo ela, a posição reduz a pressão arterial e a frequência cardíaca, o que facilita o relaxamento.

Já o cochilo em si melhora funções cognitivas, como memória e atenção, benefícios já comprovados por pesquisas científicas.

Os minutos de soneca, no mínimo 15, podem ser aliados (ou não) a massagens --nem todos os tipos exigem que o cliente tire a roupa, afinal, a ideia é cochilar no meio do expediente.

"Não cheguei a dormir pesado, mas fiquei meio em alfa'", afirma o engenheiro civil Marcos Paulo Amaral, 37, que também fez reflexologia, massagem nos pés.

A novidade de São Paulo já existe no Rio com o nome "power nap" (soneca poderosa). No espaço Pausadamente, aberto em 2009, o cliente pode virar mensalista e cochilar diariamente em cadeiras importadas. O equipamento também faz com que as pernas fiquem acima do nível do coração.

Dormir com as pernas para o alto melhora, sim, a circulação sanguínea, segundo o cardiologista Ricardo Pavanello, do HCor (Hospital do Coração). "Ajuda no retorno venoso e facilita a performance cardiovascular."

Mas não dá para dizer que a postura ajuda a diminuir a pressão arterial e os batimentos cardíacos. "Pode ter esse efeito, mas a resposta é individual", afirma. Para ele, os possíveis benefícios não justificam uma mudança de posição na hora de dormir.

Elevar as pernas também não ajuda a dormir mais rápido, segundo a neurologista Dalva Poyares, do Instituto do Sono. "Não conheço nenhum estudo científico demonstrando isso."

A neurologista vê mais sentido nos estímulos sensoriais usados pelos spas, como cromoterapia ou músicas relaxantes. "Os estímulos podem atuar em áreas específicas do cérebro e favorecer um estado de relaxamento."

Sobre os benefícios do cochilo, Poyares ressalta que a prática é útil principalmente para quem está em privação de sono --a maior parte das pessoas. "Qualquer forma de contornar o deficit já ajuda."

O melhor horário para a soneca é por volta das 14h, quando há uma queda na temperatura corporal, segundo a neurologista Andrea Bacelar, especialista em medicina do sono. A soneca, de acordo com ela, deve durar por volta de 40 minutos.

Quem tem insônia não deve cochilar durante o dia porque isso pode atrapalhar mais ainda o sono da noite. Além disso, há pessoas que não precisam ou não conseguem dormir durante o dia. "Quem não está em privação de sono e não sente necessidade de cochilar não precisa mudar a rotina", diz Bacelar.


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