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Suzana Herculano-Houzel

Subindo montanhas

Já com os músculos ardendo, como encontrar forças (leia-se motivação) para os muitos quilômetros por vir?

Nós sabíamos que o passeio de Natal em um parque no sul do Chile envolveria cerca de seis horas de caminhadas diárias com 20 kg nas costas, de um acampamento ao próximo --mas não exatamente que seria um total de 44 km percorridos em quatro dias, com várias ribanceiras espetaculares, algumas vezes contra o vento fenomenal de uma geleira.

A primeira hora de caminhada corria bem. Mas, já com músculos ardendo e tendões se manifestando, como encontrar forças (leia-se motivação) para as horas e muitos quilômetros por vir, para ainda encarar tudo de novo no dia seguinte?

Ajuda saber que motivação é a antecipação do prazer que recompensará um esforço para conquistar alguma coisa. Essa "alguma coisa" vai de ver os amigos a receber um pagamento no banco --e passa por visitar lugares incríveis na companhia de quem se ama. Ver de perto o Glaciar Grey, os Cornos e as Torres do Paine e curtir todos os acontecimentos e acampamentos no caminho são recompensas que só recebe quem se dispuser a suar, e muito. As fotos deslumbrantes no mapa e nos sites que visitamos serviram como uma grande cenoura na ponta da varinha.

Informação também é fundamental. Os marcos informativos nas trilhas a cada dois quilômetros só faltam falar: "Vamos lá, você já andou dois quilômetros, faltam apenas mais nove... mais sete... cinco...". Na falta dos postes, e quando minhas forças minguavam, criei meus próprios marcos contando meus passos, um por metro. Ajudou muito: de repente, eu tinha evidência de que os quilômetros passavam de fato. Saber que o esforço não é em vão é um santo empurrão.

Saber que não dá para sentar e chorar também é uma ajuda e tanto: ou você anda para a frente ou para trás, mas desistir e ficar por ali mesmo não dá, pois não é permitido acampar no caminho. Em nosso caso, nossos cérebros berravam "para a frente!", pois (sabiamente) reservamos um hotel dentro do parque para as duas últimas noites, com cama de verdade, comida de verdade, chuveiro de verdade.

Vislumbrar o hotel no horizonte após cinco horas de ribanceira foi a motivação de que precisávamos para completar os últimos quilômetros. Mas as Torres, o último passeio programado, ficaram para a próxima vez. Não houve dopamina suficiente que convencesse nossos cérebros a deixar o conforto do lobby quentinho, pisco sour em mãos, para encarar mais quatro horas de ribanceira...


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