Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Equilibrio

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Papel de pai

Livro mostra como a figura paterna ganhou espaço na ciência e na sociedade nas últimas décadas; hoje, eles se envolvem mais, mas ainda têm dúvidas sobre suas funções

JULIANA VINES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

As mães podem até discordar, mas os pais já foram promovidos de coadjuvantes a atores principais na criação dos filhos. Pelo menos no campo científico, segundo o escritor americano Paul Raeburn, autor do recém-lançado "Do Fathers Matter?" ( "Os pais importam?", sem edição no Brasil).

No livro, Raeburn, que é jornalista de ciência, reúne pesquisas para advogar em defesa do papel do pai, da gravidez à vida adulta.

Por exemplo: crianças cujos pais dividem as tarefas com as mães têm menos problemas de comportamento nos primeiros anos escolares.

Mas a importância do pai nem sempre foi tema de estudo. "Há uma geração, a maioria dos especialistas duvidava que os homens contribuíssem com algo além do salário", disse Raeburn à Folha.

Só depois dos anos 70 que a psicologia passou a olhar a paternidade com outros olhos. "Estão descobrindo que os pais são ligados com os filhos de maneiras que ninguém imaginava", diz ele.

A descoberta não foi por acaso. As taxas de divórcio aumentaram, as mães que começaram a trabalhar fora pediram ajuda e a sociedade começou a questionar qual seria o papel dos pais, explica a psicóloga Milena da Rosa Silva, que pesquisa o tema e é professora na Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Até hoje, definir a função paterna não é simples. "Estamos em um momento de transição. Exige-se dos pais que eles participem mais, mas não fica muito claro o que eles devem fazer na prática."

FAZ TUDO

No caso do administrador de empresas Maurício Danna, 41, até os compromissos da gravidez foram divididos. "Fui sozinho em reuniões de um grupo de grávidas porque minha esposa trabalhava. Até virei motivo de piada, porque pensavam que a grávida não existia e eu era um doido."

Ele e a esposa têm um "combinado" para cuidar da filha Malie, 2: a manhã é do pai e a noite é da mãe. "Eu a acordo, ajudo a se vestir, dou café da manhã, levo e busco na escola todos os dias", diz.

Para ele, pai e mãe têm o mesmo papel. "Somos dois atores principais, não há um principal e um coadjuvante."

É o que também pensa o fisioterapeuta Rodrigo Maia Caporossi, 33. "Não tem aquela história de o pai ficar com a parte legal e a mãe com a chata. Faço as duas coisas", afirma ele, que divide com a ex-mulher a guarda do filho Lucas, 2.

Mas tanto Rodrigo quanto Maurício não encontram muitos pais nos compromissos a que vão. "Tenho a impressão de que a maioria dos pais que conheço só ajuda as mulheres, ainda não dividem 100% as tarefas", diz Rodrigo.

Assim pensa a consultora de carreira Lisa Bueno, 40, que criou a página "Paternidade Ativa" no Facebook para militar contra o "pai-ajudante". Em pouco mais de um mês arrebanhou 1.600 seguidores, a maioria mulheres.

"Os pais não são mais ativos muitas vezes porque as mulheres não querem perder o controle. Eu já tive essa postura de o filho é meu'. As mães têm que deixar e insistir para que o pai participe."

A psicanalista Marcia Neder, autora de "Déspotas Mirins" (Zagodoni, 144 págs., R$ 34) concorda que o protagonismo dos pais, apesar de ser tendência, ainda é exceção, mas evita culpar a mãe.

"Agora até o pai folgado é culpa da mãe? Não é assim. O pai que quer ser pai o é, não precisa que a mãe deixe."

Para ela, não vale a pena discutir qual seria a função paterna porque os papéis podem e devem ser iguais.

Na mesma linha vai a psicóloga Belinda Mandelbaum, professora da USP. "É claro que a relação da mãe com o filho não é igual a do pai. São pessoas diferentes, com jeitos diferentes."

Pesquisas à parte, esse seria o maior benefício de ter um pai presente. "A criança aprende que há várias formas de agir e pensar", diz ela.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página