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Economistas veem mais produtividade já em 2014
Investimento em automação deve reduzir dependência de mão de obra
Apesar de melhora, setor deve continuar sendo prejudicado por juro alto, câmbio e gargalos na infraestrutura
A desvalorização do real perante o dólar neste ano trouxe uma redução do custo do trabalho na indústria.
Mas o efeito é considerado "temporário" e ainda "insuficiente" para reverter o peso do custo acumulado nos últimos anos, na análise de especialistas no assunto.
Aurélio Bicalho, economista do Itaú Unibanco, avalia que a mudança no câmbio torna a economia mais competitiva ao comparar (em dólares) os salários pagos no Brasil e em outros países.
Pode também trazer aumento de exportação para alguns setores da indústria.
"Mas o que de fato faz o país crescer de forma mais equilibrada é o crescimento da produtividade", diz.
Sem investir em educação, qualificação e infraestrutura, sem diminuir a carga tributária e a burocracia, Bicalho crê que não há como melhorar a produtividade da indústria.
"O câmbio pode trazer alívio no curto prazo, mas é temporário. São necessárias mudanças estruturais para que salários e produtividade sigam alinhados", diz Bicalho.
Para parte dos economistas, é possível que a recuperação da produtividade do setor industrial em 2013 já seja o início de uma tendência mais positiva para o setor.
Júlio Gomes de Almeida, ex-secretário de política econômica do governo, vê sinais de que a indústria tem investido em maior automação, aumentando sua eficiência.
Isso explicaria, segundo diz, por que a recuperação da produção industrial não tem sido acompanhada por aumento de emprego no setor.
Ele acredita que o aumento de financiamentos concedidos pelo BNDES à indústria tem sido direcionado a investimentos para aumentar a eficiência, reduzindo a dependência da mão de obra.
Marcio Pochmann, economista e professor da Unicamp, também ressalta que neste ano já houve "inversão" da tendência de queda da produtividade da indústria vista nos últimos anos.
"A produtividade cresceu quando comparada a horas trabalhadas (1,89%), ao pessoal ocupado (1,79%) e à folha de pagamento das indústrias em dólar (5,30%) entre janeiro a julho deste ano."
A exceção: "A produtividade só cai (1,74%) na comparação com a folha de pagamento em reais", diz.
Se o câmbio voltar a se desvalorizar e estacionar em outro patamar mais competitivo, é possível que a incipiente recuperação da produtividade se acelere, diz Almeida.
Para José Silvestre Oliveira, do Dieese, mesmo com a recuperação, a eficiência da indústria continuará sendo prejudicada por fatores como juros elevados, câmbio e gargalos na infraestrutura.