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Finalista - Regina Vidigal Guarita

ARTE DESPERTAR www.artedespertar.org.br

Curadora dos sentidos

Casada e com três filhos, a arte-educadora de 67 anos criou uma metodologia que envolve arte e cultura para estimular indivíduos fragilizados, como pacientes hospitalizados e crianças socialmente vulneráveis; a diretora-presidente da Arte Despertar, fundada em 1998, gerencia uma equipe de 33 funcionários e um orçamento de R$ 1,38 milhão (2013)

EDSON VALENTE COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Quando tinha de 11 para 12 anos, Regina Guarita, hoje com 67, foi, por assim dizer, sua própria arte-educadora. Com hepatite, caiu de cama por seis meses. Nesse afastamento compulsório, criou um universo próprio, fundamentado em leituras. Os textos de Monteiro Lobato e suas "Reinações de Narizinho" particularmente a encantaram.

Na adolescência, entre 15 e 17 anos, enfrentou outro problema de saúde --sob a perspectiva do cuidador. A irmã mais nova teve leucemia aos 11 anos. Regina e a outra irmã foram chamadas pelo pai para cuidar da caçula --e privadas de ir à escola. Após três anos, a menina morreu.

"Isso me marcou: a doença, a criança e a fatalidade. A incapacidade da área médica de curá-la. Esse vazio e a reconstrução da vida depois dele", reflete Regina. E completa: "Se não fossem a arte e a leitura, que me sustentavam, não sei como seria".

O ambiente familiar era determinado pela rigidez do caráter paterno. "A partir disso, você era obrigada a exigir mais de si mesma."

De Regina, ele demandou que fosse educada em casa. "Não tive outra escola que não meu próprio interesse em relação à vida", considera. "O que tinha para ler, eu lia. Criei minha cultura a partir dos meus interesses e esforços."

A fase dos 20 e poucos anos reservou a ela mais uma dificuldade que, depois, se transformaria em motivação para investir em projetos sociais.

Um acidente com o irmão no aeroporto de Viracopos fez com que ela convivesse por um mês com rotinas ambulatoriais num hospital de Campinas (SP) --ele ficou em coma devido a traumatismo craniano, do qual se recuperou.

Aos 38, Regina vivenciou outra situação dolorosa: o pai sofreu infarto seguido de parada cardíaca e ficou dois meses no InCor (Instituto do Coração), em São Paulo.

PRINCÍPIOS

Foi aos 23 que se casou com um rapaz que havia conhecido em Campos do Jordão (SP). Quando os filhos chegaram --foram três--, dedicou-se a criá-los "para que viesse à tona o que eles tinham de melhor, para que crescessem e ficassem em pé pelas próprias pernas".

Tais princípios, frisa, regeram a criação da Associação Arte Despertar, cuja meta é recuperar nos indivíduos seus talentos e capacidades.

Na época em que o filho mais novo entrou na adolescência, Regina começou a trabalhar em uma agência de marketing de incentivo, com motivação de indivíduos em empresas. Tinha 45 anos.

A agência se fixou na região da República, em São Paulo, e ela lembra que via, ao sair do trabalho, "crianças fumando crack, umas jogadas em cima das outras", imagem que a "tocou muito".

Àquela altura, seu círculo ideológico estava quase concluído; faltava projetá-lo num modelo organizado.

Completar 50 anos trouxe a convicção de que precisava dar um passo maior. Alugou uma sala e, após seis meses, sabia que queria "trabalhar arte e cultura com crianças para, no mínimo, dar a elas uma percepção da importância que têm neste mundo".

Para configurar o embrião do negócio, contou com a ajuda de Maria Christina Rizzi, arte-educadora da USP.

A Arte Despertar deu seus primeiros passos no InCor, em 1997, realizando atividades de artes visuais com crianças internadas. A extensão do projeto para comunidades carentes ganhou força com a incursão na Aldeia Infantil SOS Rio Bonito.

Em um passeio no Masp (Museu de Arte de São Paulo) com as crianças acolhidas pela ONG, em 1998, ela diz ter tido a clara percepção de estar no rumo certo para resgatar aquelas identidades.

"Na exposição do Michelangelo, enquanto o monitor falava sobre o artista, as crianças eram outras, bebendo aquelas informações com sorrisos nos rostos. Elas se sentiram valorizadas. Tive certeza de que a arte é um caminho de comunicação."

Hoje ela devolve o encantamento que Monteiro Lobato lhe propiciou num momento de fragilidade a crianças e a adultos que as cercam, como no treinamento de profissionais de saúde e na formação de arte-educadores.


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