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Painel do Eleitor

MARCELO COELHO

'A grande mudança foi o Plano Real'

Operário ressalta plano de estabilização monetária e diz não se conformar com o programa Bolsa Família

Antonio Maciel da Silva, 44 anos, é soldador e montador numa grande fábrica de carrocerias e reboques em Guarulhos (SP). Depois de duas décadas e meia como operário, começa a projetar seu futuro quando se aposentar.

Pensa em voltar para o Ceará, de onde veio aos 19 anos, e dedicar-se ao comércio: uma loja de autopeças, ou um depósito de materiais de construção, talvez. Parentes que ainda vivem lá têm empreendimentos comerciais e se hospedam na casa de Antonio duas ou três vezes por ano, quando vêm para São Paulo a negócios.

A maior parte da família (com ele, são 15 irmãos) ainda vive no interior do Estado. Aos 82 anos, o pai de Antonio continua a criar gado no seu sítio.

"Nunca foi empregado de ninguém", esclarece Antonio, que não veio procurar emprego em São Paulo "pela pobreza". A família, diz, "tinha posses" --a ponto de poder matricular Antonio numa escola particular, depois de ele ter concluído o ensino fundamental.

"Eu é que não me interessava em estudar", sorri ele, que, desde os seis anos, ajudava o pai no trabalho da roça. "Ele não nos obrigava; a gente é que ia atrás dele, por imitação, para aprender."

Ele contrasta a educação que teve com os hábitos atuais. Valores de honestidade e de caráter foram transmitidos aos 15 irmãos; hoje em dia, mesmo quem cria apenas um filho "já não sabe se ele vai se desviar".

Abrir uma empresa no seu Estado natal parece mais conveniente a Antonio do que tentar um negócio por aqui. Há mais hospitalidade e "calmaria", diz ele, pensando na questão da violência, e também menos impostos.

Impostos --a palavra sempre volta às considerações de Antonio, que tem um modo particular de baixar o tom da voz à medida que vai ficando mais indignado. Ele calcula pagar R$ 120 por mês em Imposto de Renda.

Não se conforma que o imposto incida também sobre as horas extras --e que aposentados ainda tenham de pagar IR. "O trabalhador serve só de intermediário entre o dinheiro do empresário e o que vai para o governo", reclama.

O pior, acrescenta, é a corrupção. "A gente trabalha o dia todo na fábrica, chega em casa, vai assistir o Jornal Nacional', e já espera para ficar sabendo de mais um doleiro." Antonio ironiza as declarações de Dilma Rousseff.

"O governo diz que os casos aparecem porque a Polícia Federal está atuando mais", diz ele. "Mas esse é o trabalho da PF mesmo." O problema é que "a polícia faz o que tem de fazer, mas o governo não governa".

Nenhuma lei beneficiando o trabalhador, prossegue Antonio, veio dos governos do PT. Os direitos trabalhistas surgiram com Getúlio Vargas; o Fundo de Assistência ao Trabalhador, a Lei de Responsabilidade Fiscal, os 30% a mais para quem tira férias, "nada disso foi obra do Lula."

O PT não mais transmite uma imagem de sinceridade, diz ele. "Não dá para confiar em quem saiu da luta contra a ditadura e agora só tira dos trabalhadores."

A introdução do fator previdenciário e a reforma no INSS de 2003 --mudanças introduzidas, respectivamente, por Fernando Henrique e Lula-- também deixam Antonio revoltado. "Não sabem, nos gabinetes, o que é trabalhar nove horas por dia com a solda."

Tinta e outros resíduos químicos, quando aquecidos, soltam muita fumaça --e ele se cansou de ver companheiros ainda doentes terem de voltar a trabalhar, porque acaba o seu período de licença. Antonio defende regimes de previdência diferenciados, conforme a profissão de cada um.

Pergunto se a renda do trabalhador não aumentou nestes últimos anos. "A inflação não é essa que eles divulgam", responde Antonio. A começar pelas taxas de água e luz, "tudo sobe mais do que 5% ao ano".

Ele também não se conforma com o Bolsa Família. Como pode ser justo tirar dinheiro de um aposentado, pergunta, para dar a alguém de 20 anos, com plenas condições de trabalhar? E como dizer que não há desemprego no país, quando milhões e milhões de brasileiros vivem só com o Bolsa Família?

A verdadeira mudança, diz Antonio, não foram os programas de Lula, e sim o Plano Real. Ainda que admire a humildade de Marina Silva, Antonio não a julga com suficiente experiência para ocupar o Palácio do Planalto. Não há dúvida: para este operário, o melhor candidato é Aécio Neves.


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