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De ovelha a lobo

Após campanha petista quase perder o rumo durante ascensão de Marina, Dilma manteve sangue frio, partiu para o ataque e adotou um discurso mais esquerdista

NATUZA NERY ANDRÉIA SADI DE BRASÍLIA

"Não está morto quem peleia, disse uma ovelha cercada por lobos." A frase é ouvida da boca de Dilma Rousseff (PT) nos momentos difíceis ou quando se sente acuada.

Foi com esse espírito que, no fim de agosto, a presidente recomendou "sangue frio" à equipe ao ver Marina Silva disparar nas pesquisas de intenção de votos em velocidade impressionante.

A nova rival saltara 13 pontos em apenas duas semanas, logo após assumir a candidatura ao Palácio do Planalto depois da trágica morte de Eduardo Campos (PSB), no dia 13 de agosto.

A velocidade da escalada da ex-colega de Esplanada dos Ministérios assombrava o comitê petista de tal forma que, ao menos entre os mais alarmados, havia quem cogitasse uma vitória da adversária ainda no primeiro turno.

A apreensão tomou conta. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguia esconder a tensão. E disparava telefonemas.

"Olha, a tia tem que ir para a rua, a tia tem que se movimentar!", ordenava o ex-presidente, usando uma habitual, porém reservada, forma de tratar sua sucessora toda vez que cobra algo.

A campanha petista ficou a um passo de perder o rumo. Uns aconselhavam esperar o PSDB atacar a nova candidata; outros diziam que não dava para "terceirizar" a campanha. Enquanto não se decidiam, Marina crescia.

Coube a Dilma o freio de arrumação. "Ela é mais perigosa que os tucanos. Vamos ter de jogar no erro dela", disse a presidente durante reunião de coordenação de sua campanha no fim de agosto.

Para a presidente, o "perigo" se traduzia em três variáveis bem objetivas: Marina pegava parte do eleitorado petista, sintetizava as manifestações que sacudiram o país em junho de 2013 e atraía o eleitorado majoritário que ansiava por mudanças.

Mas aquele tamanho todo, aquela força que chegava aos 34% das intenções de voto em poucos dias, dizia a presidente, "não era tão consistente" como supunham assessores.

Com as baterias voltadas contra a ex-ministra do Meio Ambiente de Lula e explorando ao máximo os erros da adversária, os petistas deram início ao processo de desconstrução de Marina.

Em um mês, conseguiram isolar Dilma na ponta e empurraram a candidata do PSB para uma disputa com o tucano Aécio Neves, para saber quem passará para a segunda fase da corrida presidencial.

A candidata petista chega neste domingo sem clareza de quem enfrentará no duelo do dia 26 de outubro. Mas a condição de ovelha que lutava em agosto ficou para trás. Dilma agora é um lobo.

Sua equipe chamou os ministros que estarão neste domingo em Brasília para participar do pronunciamento que fará após o resultado das urnas ser divulgado.

A convocação tem o objetivo de demonstrar força, peso político, ao lado de muitos apoiadores na foto oficial deste primeiro turno.

Também já existem planos para o início da semana. Uma reunião "de arrancada" com eleitos, na próxima terça-feira (7), embora a previsão é de haver mais derrotados, que passarão a se dedicar exclusivamente à campanha, caso o segundo turno se confirme.

O efeito Marina mudou drasticamente o tom e o ritmo da campanha petista.

Obrigou Dilma a viajar mais, Lula a sair de casa e a campanha a adotar um discurso mais à esquerda. Movimentos sociais foram convocados e a autoconfiança de uma vitória no primeiro turno, presente no início da corrida, quebrada.

O discurso contra banqueiros adotado por Dilma em ataques contra Marina chegou a um tal ponto que muitos de seus auxiliares já se preocupam sobre como farão para reconstruir pontes e evitar um segundo mandato conflagrado, caso a petista consiga o direito de sentar no gabinete presidencial por mais quatro anos.

A mais nova piada da campanha compara a presidenciável do PT à candidata do

ideológico PSOL. "Se tivesse mais uma semana de primeiro turno, Dilma ultrapassava Luciana Genro em matéria de esquerdismo."


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