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Angela Alonso

O legado dos nanicos

Candidatos de esquerda defenderam a expansão da cidadania; os de direita, o reinado da intolerância

Todos os holofotes se voltam para Dilma e Aécio. Adeus Marina, adeus nanicos? Marina fica, tem força de barganha, vê-se pela avidez do PSDB em conquistá-la. Já os nanicos saem da grande cena. Isto não significa que tenham sido irrelevantes.

As pequenas candidaturas nem em arroubos "sonháticos" aspiraram ao segundo turno, que dirá à vitória. Contudo tiveram relevância pedagógica no processo eleitoral. Os pequenos de esquerda, Luciana Genro e Eduardo Jorge, e os de direita, Levy Fidelix e o Pastor Everaldo, justamente por correrem por fora, protagonizaram debate de peito aberto sobre temas que os três candidatos na dianteira contornaram, como se contorna casca de banana. Os grandes se concentraram nas grandes questões, a condução da economia, a boa ou a má gestão do Estado (a corrupção), as políticas sociais. Note-se, no último caso, o quase consenso em torno de ações corretivas das desigualdades, o que não é pouco quando sistemas de proteção social andam a perigo mundo afora.

A convergência quanto à política redistributiva tirou dos pequenos candidatos à esquerda a exclusividade de sua bandeira mais longeva, a da igualdade. Daí seu esforço de diferenciação, puxando tópicos até então fora da agenda principal e para além dos direitos sociais. Trouxeram, sobretudo, o tema do direito à gestão do próprio corpo: aborto, casamento gay, uso de drogas.

Luciana Genro e Eduardo Jorge empurraram a conversa do campo dos interesses para o dos princípios, disputaram valores. Assim, obrigaram posicionamentos dos demais. Um efeito imediato foi a manifestação peremptória de Dilma contra a homofobia, ao passo que a ambiguidade de Marina no quesito pode ter lhe custado milhares de votos.

Essa conversa sobre princípios abriu campo também para as candidaturas nanicas de direita. Levy Fidelix externou suas opiniões reacionárias quanto a família, casamento, comportamento. O duelo político se revestiu, então, de tonalidade moral. A simpatia das mídias sociais para com Eduardo Jorge virou hostilidade no trato a Fidelix, achincalhado de todos os modos. Foi como se não houvesse mais lugar no espaço público brasileiro para posições como as suas.

Mas, quando as urnas se abriram, viu-se que Fidelix não estava sozinho. Sua candidatura foi menos sufragada que as de Luciana Genro e Eduardo Jorge, mas Jair Bolsonaro e Marco Feliciano, que no Legislativo defendem posições gêmeas às dele, foram votadíssimos: juntos, somaram 865 mil votos, enquanto Jean Wyllys, do movimento LGBT, obteve 144 mil. Assim foi que a agenda da extensão de direitos se esgueirou pela porta da disputa presidencial e escapuliu pela janela parlamentar.

O legado dos nanicos tem duas faces. Embora com pés de barro --o PV, por exemplo, não cumpriu a cota de 30% de candidatas mulheres--, as pequenas candidaturas de esquerda apontaram para a expansão da cidadania. Já os nanicos de direita sinalizaram o rumo vislumbrado em várias partes da Europa, aquele no qual o casamento entre moral e política produz o reinado da intolerância.


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