Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Especial

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Mauricio Puls

Profetas desarmados

Faltam aos líderes da classe média, como Ciro e Marina, bases sociais para enfrentar os ataques dos adversários

Sempre que nos deparamos com candidatos que prometem "mudanças", adverte Maquiavel, é necessário examinar "se esses inovadores se apoiam sobre suas próprias forças ou se dependem de outros" --para saber se eles "podem forçar" ou se "precisam rogar". No primeiro caso, em geral são bem-sucedidos; no segundo, acabam mal: "Destarte todos os profetas armados venceram e os desarmados fracassaram".

Há consenso de que Marina Silva não teve poder de fogo suficiente para "forçar" sua passagem ao segundo turno, mas ainda não estão claras as razões de sua derrota. Um paralelo com o destino de Ciro Gomes, em 2002, pode nos ajudar aqui.

Ciro e Marina eram quadros destacados de seus partidos (PSDB e PT), mas, como nunca teriam a chance de disputar a Presidência, buscaram abrigo em pequenas siglas. Tentaram duas vezes: na primeira, ficaram em terceiro lugar; na segunda, amparados por uma coalizão maior, encostaram nos líderes das pesquisas no 1º turno --e apareciam à frente deles nas projeções de 2º turno.

Os dissidentes avançaram com rapidez sobre os eleitores de seus partidos de origem, mas caíram ao serem criticados no horário eleitoral após algumas declarações infelizes. É um erro, porém, achar que eles tropeçaram numa frase inadequada. Por acaso isso é mais grave que uma acusação de corrupção? Nesta campanha, Dilma e Aécio já suportaram ataques muito mais destrutivos.

A diferença entre vencedores e perdedores é que os primeiros estão entrincheirados em dois segmentos do eleitorado que não cedem mesmo nas horas mais difíceis: o PT recruta os trabalhadores de baixa renda e os excluídos; o PSDB, os empresários, os profissionais liberais e os assalariados de alta renda.

No auge das ofensivas de Ciro e Marina, as intenções de voto em Lula e Dilma resistiram em 33% e 34%, respectivamente, e as de Serra e Aécio nunca recuaram de 13% e 14%.

Em contrapartida, bastou um mês de bombardeio para que os exércitos de Ciro e Marina se dispersassem. O que explica essa fragilidade?

As principais bases dos dissidentes do eixo PT-PSDB são os estratos formados por assalariados de renda média. No século passado, havia a expectativa de que o aumento da proporção de empregados no setor terciário criaria uma "nova classe média", com uma atuação política autônoma. Mas isso não ocorreu.

Como tais camadas são mais refratárias à sindicalização e à associação, não conseguem se estruturar politicamente de forma eficaz --veja-se o fracasso da tentativa de lançar a Rede Sustentabilidade.

Essa desorganização dificulta a montagem de linhas de defesa na sociedade civil --papel desempenhado pelos sindicatos e movimentos sociais, no caso da esquerda, e pelas associações e institutos empresariais, no caso da direita.

Assim, toda vez que essa massa difusa ameaça emplacar a "terceira via", seus adeptos acabam sucumbindo à artilharia inimiga e correm de volta para os dois polos tradicionais. Sem uma retaguarda sólida, os profetas da classe média não têm força para conquistar o Estado e implementar suas propostas: precisam "rogar" para que outros o façam.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página