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Almir Suruí e Ivaneide Cardozo

Finalista

Metareilá | www.surui.org e Kanindé | www.kaninde.org.br

Aos 53 anos, a historiadora é uma das maiores referências do país em diagnósticos e planos de gestão em terras indígenas; seu marido, aos 38 anos, é uma das principais lideranças indígenas do Brasil

Guerreiros na floresta

Casal une as forças das etnias indígena e branca para combater o desmatamento

GABRIELA ROMEU ENVIADA ESPECIAL A PORTO VELHO E CACOAL (RO)

Na batalha em defesa da floresta, o líder indígena Almir Suruí, 38, e a etnoambientalista Ivaneide Bandeira Cardozo, 53, combatiam os mesmos inimigos, só que munidos de armas diferentes.

"Eu vinha do 'front', do enfrentamento; o Almir, do diálogo", conta a empreendedora, que já escapou de tiros de madeireiros e vivia embrenhada na mata, vestida com uniforme de polícia, para "apreender" os infratores.

As divergências no jeito de encarar a "luta" levaram Neidinha, como é conhecida entre ambientalistas, a, certa vez, declarar sobre os dois: "Aqui estão o Senhor da Paz e a Senhora da Guerra".

Desde meados da década de 1990, no entanto, a dupla decidiu juntar todo o arsenal que tinha para combater o desflorestamento no Norte do país e promover a autonomia dos povos indígenas. Atuam

em organizações parceiras, a Kanindé e a Metareilá.

Criada em seringal, Neidinha conta que seu espírito combativo vem dessas origens: "Filho de seringueiro já nasce lutando". Cresceu na floresta amazônica com os vestígios dos índios uru-eu-wau-wau, até então isolados.

BANGUE-BANGUE

Na infância na mata, onde cutia, macaco e paca eram seus amigos e brinquedos, aprendeu a ler em revistas como "Manchete" e em livros de bangue-bangue, que chegavam por lá vez ou outra.

Nas leituras, ficava intrigada com histórias em que "os índios, donos da terra, só se davam mal". "Pensava: Um dia vou mudar essa história."

Almir também quis logo cedo modificar o curso da história de seu povo, os suruís, que desde os anos 1980 vivem em conflito com madeireiros ilegais em Rondônia.

"Somos sobreviventes", afirma, com olhos mareados, ao lembrar que os suruís quase foram dizimados por uma epidemia de gripe após o contato com o branco, em 1969.

Menino ainda, foi estudar na cidade. O pai, Marimop, dizia que o filho estava "caçando para o povo". "Continuo caçando", emenda.

Foi também ainda garota que Neidinha migrou da mata para Porto Velho. Na escola, ao encenar uma peça que falava da migração em Rondônia, não teve dúvida sobre qual personagem queria ser: o índio. "Mas não o índio que morria no final", lembra.

A juventude de ambos foi marcada pela militância. Neidinha conta que ia para as ruas só, com placas em protesto contra o desmatamento na Amazônia. "Era a maluca sozinha na praça", diz.

PLANO DE 50 ANOS

Aos 17 anos, Almir já despontava como uma jovem liderança indígena suruí, e uma de suas primeiras missões era convencer seu povo de que era preciso valorizar a floresta em pé -ou cuidar da terra, como diziam os velhos da aldeia.

Não tardou a entrar na militância ambiental. Hoje, carrega o título de chefe-maior de seu povo, cerca de 1.350 suruís vivendo em 25 aldeias da Terra Sete de Setembro.

Para garantir o futuro de seu povo, buscou a ajuda de Neidinha para desenvolver o plano de gestão de 50 anos do território suruí. Uma das ousadias do projeto é unir o conhecimento científico dos pesquisadores com a sabedoria tradicional dos suruís.

Nem as armas "high-tech" foram dispensadas na "guerra de consciência", como define Almir. Em 2007, em viagem pela Califórnia, nos EUA, ele conseguiu parceria inédita com a empresa Google Earth, o que deu projeção internacional à luta dos suruís.

Chamado de segundo Chico Mendes pela imprensa internacional, Almir rebate o rótulo: "Não quero ser Chico Mendes, não, ainda mais morto", diz, enquanto é observado ao longe por membros da Força Nacional, que o escoltaram durante os dias de visita da reportagem -período em que ameaças de morte contra os suruís ficaram acirradas.

Neidinha diz temer pela proteção de Almir, um "guardião da floresta". "Tenho medo, mas também certeza de que vamos vencer. A crença é maior que o medo", dispara, a seu modo aguerrido.

800 mil índios vivem hoje no país (0,4% da população brasileira), distribuídos em 683 terras indígenas e áreas urbanas (Censo 2010 IBGE)

CONSERVAÇÃO

A criação de áreas protegidas é uma das estratégias mais efetivas de conservação das florestas. Hoje, 33% da Amazônia Legal são de Unidades de Conservação e terras indígenas, que funcionam como barreira contra o avanço do desmatamento

MADEIREIROS

A ação de madeireiros ilegais em Rondônia -às vezes com apoio dos índios socialmente excluídos- já desflorestou 6,3% do território protegido no Estado e vem aumentando ano a ano (Imazon, 2004)

IMPACTO SOCIAL

Atuam para o desenvolvimento justo e ambientalmente responsável dos povos indígenas da Amazônia, com 5.000 beneficiários diretos, em uma área de 15 milhões de ha em MT, PA, RO e AM

INOVAÇÃO

Desenvolveram a tecnologia social Diagnóstico Etnoambiental Participativo e o primeiro projeto de REDD+ (redução de gases de efeito estufa provenientes do desmatamento e da degradação florestal) em terras indígenas

SUSTENTABILIDADE

Com orçamento de R$ 4 milhões para 2012, criaram um estilo próprio de gestão, menos formal e mais baseado no trabalho em equipe, valorizando a diversidade e a sinergia entre o saber do índio e o do branco


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