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O lado selvagem do parque
O Ibirapuera esconde um espaço destinado à recuperação e reabilitação de animais silvestres
De longe, parecia um gato. Mas era um macaquinho. De pelagem escura e apenas dois meses de vida, o bugio era tão pequeno que sumia debaixo da toalha. Acalmado pela veterinária, mal reagia às agulhadas que levava durante a sessão de acupuntura.
O filhote chegou à Divisão de Medicina Veterinária, no parque Ibirapuera, no início do ano. Foi resgatado pela Polícia Ambiental em Caucaia do Alto, região metropolitana de São Paulo. Os agentes o encontraram no chão, agarrado à mãe morta.
"Ela foi eletrocutada e ele, órfão, chegou aqui convulsionando", explica a veterinária Thais Sanches.
O bugio, assim como os demais animais em tratamento no local, não recebe nome -os funcionários evitam contato a fim de não interferir no processo de reintrodução dos bichos na natureza.
Atualmente, estão sendo reabilitados corujas, saguis, tartarugas, araras, passarinhos, um tucano-de-bico-verde, porcos-espinhos, quatis e até gambás e urubus.
O acesso ao espaço é restrito. Desde o surgimento da Divisão de Medicina Veterinária, em 1993, já foram atendidas mais de 600 espécies -a cidade de São Paulo tem 700; 45 delas em extinção.
É comum receberem ali animais feridos ou traumatizados. Alguns se enroscaram em linhas de pipa ou anzóis. Outros sofreram choques elétricos, colisões ou ataques de animais domésticos.
No Natal passado, o cirurgião Diogo Fiori atendeu um carcará com trauma no crânio e fratura em uma das asas. A ave estava quase tetraplégica, mas já recupera os movimentos aos poucos.
"Buscamos deixá-los perfeitos, porque eles não se reintegram à vida selvagem com menos do que isso."
Para dar entrada, cada paciente custa, no mínimo, R$ 200 com exames. "Atendo os animais da melhor forma possível, porque amanhã pode ser que um deles esteja ameaçado de extinção", diz a diretora do espaço, a veterinária Vilma Geraldi.