Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria
Fábio Seixas
Nuvem que ronda
Após um início de ano empolgante, Massa tem que se entender com os pneus para não fracassar
A grande novidade deste ano na F-1 parecia ser Massa. O brasileiro começou o ano fazendo coisas que não conseguia havia um bom tempo.
Após o GP da Malásia, colocou- -se à frente do companheiro de equipe, cenário inédito em três anos. Na China, liderou um treino --a segunda sessão livre--, o que não fazia desde Índia-2011. De quebra, mantinha-se melhor do que Alonso no grid, uma série que já vinha desde o final da temporada passada.
Mais do que os números, porém, o que chamava a atenção era seu discurso. Uma autoconfiança que em nada lembrava o claro abatimento dos últimos campeonatos.
Em suas próprias palavras, a "nuvem negra" que pairava sobre sua cabeça se dissipara. Ele estava de volta.
Durou pouco.
Do apagar das luzes na China à bandeira quadriculada no Bahrein, o Massa que se viu nas últimas duas etapas foi aquele da primeira metade do último Mundial.
Em Xangai, Alonso venceu e ele foi sexto. Em Sakhir, final de semana terrível para a Ferrari, ficou em 15º, sete posições atrás do espanhol.
Comparações à parte --até porque é injustiça comparar a grande maioria do grid ao espanhol--, ele foi mal mesmo. E a explicação pega carona na coluna da semana passada: são os pneus.
Massa abriu mão da luta pela pole no Bahrein. Sua ideia foi sacrificar a performance no sábado, usando os pneus mais duros, e colher os dividendos no domingo, com um primeiro pit stop tardio.
A estratégia havia funcionado com Vettel na China. Poderia funcionar com ele.
Não deu certo. Os pneus do seu carro duraram apenas dez voltas, e ele entrou nos boxes na mesma janela dos pilotos que estavam com os compostos mais macios.
Massa é um piloto rápido, talentoso, mas fica cada vez mais evidente que tem uma deficiência crônica no trato com os pneus. E, de novo evocando o texto da última sexta, isso significa que está lascado: pneus, hoje, são tudo.
Não por coincidência, seu discurso após a prova já foi num tom diferente: "Não consigo encontrar explicação para tantos problemas".
O Mundial está no começo. Massa é o sexto colocado. Em 2012, após as mesmas quatro provas, era o 17º.
Não dá para delirar em vê-lo lutando pelo título, mas, sim, é possível esperar um ano mais digno. Até por sua sobrevivência na categoria.
No Rio, dias antes de embarcar para a abertura da temporada, Massa não gostou quando foi questionado sobre a pressão do fim do contrato com a Ferrari e as especulações sobre seu provável substituto no time.
"Já vão começar com isso?", perguntou, na ocasião.
Ele tinha toda a razão naquele momento. Precisa se acertar logo com os pneus para continuar tendo.