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Lúcio Ribeiro

Minha primeira vez

Uma tarde de clássico na Fonte Nova. A modernidade pode ser linda, mas também pode não ter alma

Eu já havia ido à Fonte Nova nos anos 90, numa ocasião em que o estádio baiano recebeu quase 80 mil pessoas em números oficiais. Mas tinha 100 mil ali, fácil. Agora, sábado, Brasil x Itália, lá estava eu de novo na Fonte Nova, agora em versão Arena, abarrotaaada por 48 mil pessoas.

Embora tenha achado o modernizado estádio (ok, arena) bem bonito, não sei dizer se gostei mais dessa experiência civilizada ou daquele pandemônio que foi o tal jogo decisivo de 1993. Foi minha primeira vez numa arena brasileira.

Achei que era hora de testar o indelével slogan "Imagina na Copa", ainda que a das Confederações. Então fui à Fonte Nova como torcedor "comum", sem crachá de imprensa.

Começou no aeroporto, onde fui bem recebido por baianas vestidas de baianas, dando fitinhas do Bonfim verdes e amarelas.

Veio a hora do táxi. "Para o Centro é R$ 70", disse o primeiro da fila. Beleza, vou de ônibus.

"Faço por R$ 60". Não, obrigado. "Vou por R$ 50", gritou o taxista atrás, já querendo furar o colega à frente. "R$ 40", o primeiro revidou.

Já esperava o ônibus no ponto, quando o taxista 1 saiu do carro e foi até mim: "Pague R$ 30. Vamos de comboio para o Centro". Comboio no caso foi quatro passageiros socados no banco detrás e eu ao lado dele. Bahia style.

Caminhar à Fonte Nova, dependendo por onde, é engraçado. Você anda pelo caos urbano pobre de uma parte de Salvador e de repente chega no Stade de France, em Paris, que é a Arena Fonte Nova.

A elitização grita mais quando você percebe o público. Aquela história de que a arquibancada une os humildes e os abastados, de que tanto o futebol brasileiro se orgulhava, não existe mais.

No vale que leva ao estádio, olhando para o alto de uma ribanceira do lado da "cidade real" e sem o menor acesso, deu para ver uns seis "locais" de bermuda e sem camisa, com uma bandeira do Bahia esticada, olhando lá embaixo a torcida de verde e amarelo.

Um amigo, querendo informes da Bahia, escreveu via celular: "A impressão pela TV é que em plena BAHIA, somando a arquibancada toda e mais os dois times, o único negro é o centroavante. O italiano". Não era assim, mas era quase.

O choque Brasil simples-Brasil moderno gerou ainda coisas assim: meu ingresso era no setor S, nível dois. Achei a placa S mas não o nível 2. Subi e desci escadas e não encontrava o local. Uma voluntária primeiro disse que, na verdade, o nível 2 ficava no nível 6 (!). Subi e desci escada para encontrar e nada.

Depois surgiu ela correndo atrás de mim para contar que tinha descoberto onde era: no nível dois do nível três. Mas no meio, não pelos cantos. No alto-falante, em inglês, o narrador pediu palmas para os voluntários simples dentro do templo da modernidade. Clap.


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