Saltar para o conteúdo principal Saltar para o menu
 
 

Lista de textos do jornal de hoje Navegue por editoria

Esporte

  • Tamanho da Letra  
  • Comunicar Erros  
  • Imprimir  

Torero na cativa

Meio a meio

Capital cearense se dividiu ontem entre Fortalezza e Fuertaleza

JOSÉ ROBERTO TORERO ESPECIAL PARA FOLHA, EM FORTALEZA

Eu contei: perto de mim, nas arquibancadas, havia três pessoas com camisas da Itália e dezessete com a da Espanha. Pensei que significava que o Castelão (que ficou tão belo que merece o nome) torceria por Iniesta e cia.

Mas eu estava errado. O DataTorero deixou-se enganar pelas roupas. Quem vê camisa não vê coração.

Logo nos hinos ficou claro que a cidade estava mais para Fortalezza que para Fuertaleza. A recepção ao hino espanhol foi respeitosa. Mas a acolhida ao hino da Ferrari, digo, da Itália, foi emocionante. O público bateu palmas e até cantarolou a melodia.

Achava que, assim que começasse o jogo, a coisa se inverteria por causa do domínio espanhol. Afinal, a Fúria (que poderia mudar seu apelido para Calma ou Fleuma) há anos está no degrau mais alto do pódio ludopédico.

Isso é o que fez com que Fabiano Rocha, serigrafista, gastasse R$ 35 numa camisa "não muito oficial". Ele diz que o futebol da Espanha é o melhor que existe para se ver.

Matheus Mendes, 14, concorda. Usando chapéu espanhol e cachecol italiano, ele disse que não estava dividido. Torcia pela Espanha, porque ela dá mais show.

Mas o domínio espanhol não veio. Nada de trocas de bola incisivas e de alto QI futebolístico. Foi a Itália quem perdeu mais chances no primeiro tempo. E, quando a Espanha chutava, ouvia-se aquele "Uh!" de alívio.

Já quando era a Itália que errava, ouvia-se o "Ah..." de decepção. Um dia alguém precisa fazer um estudo sobre as interjeições no futebol.

O amor motivou torcedores. Rúben Gomez, 31, nasceu em Barcelona, mas mudou-se para Fortaleza, onde casou e tem três filhos. Todos estavam vestidos de vermelho.

Por outro lado, Rosilena Telli veio de azul porque é esposa de italiense, "italiano que virou cearense", traduz.

O predomínio da torcida italiana é explicado em parte por Felipe Guedes, voluntário de 19 anos. Ele torceu pela Azzurra porque acha que a Itália é um país mais próximo do jeito brasileiro de ser.

Já Tania Sampaio, professora de geografia, tinha motivo maquiavélico: queria um rival mais fraco na final.

Mas havia quem preferisse a Espanha justamente pelo motivo contrário. Charles Denis Miranda, 42, dono de padaria, disse, com sadismo, que "queria ver o Brasil na roda". Um amigo ao lado comentou: "Ele está revoltado, a mulher largou dele".

Nos últimos minutos, o estádio gritava para atrapalhar a Espanha. Até eu, confesso, torcia pela Itália, apesar do meu sobrenome levemente espanhol.

Porém, nos pênaltis, o que se ouviu foi um sonoro "Eh!" a cada cobrança convertida. O público estava faminto de gols, não importava de quem.

No final, só uns poucos "tifosi" é que soltaram o legítimo "Oh!" da tristeza.


Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página