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Revolución
Após 51 anos, Cuba libera atletas para lutar no boxe profissional
O boicote --que já durava 51 anos-- de Cuba ao boxe profissional foi quebrado ontem, com a participação de seus atletas na Série Mundial de Boxe, liga disputada sob regras profissionais: sem camiseta, sem capacete protetor, com mais assaltos e com pagamento de bolsa.
Uma porcentagem das bolsas dos atletas irá direto para o caixa do governo cubano, o que também ocorre com profissionais "emprestados" a outros países, como o caso dos seus médicos no Brasil.
Desde ontem e até hoje, uma equipe de cubanos, batizada com o sugestivo nome de Domadores, enfrenta um time de boxeadores mexicanos na casa dos rivais.
A competição, organizada pela Aiba (Associação Internacional de Boxe Amador), tem etapas em diversos países e funciona como uma franquia, ao estilo da NBA.
A bênção oficial do governo cubano foi inequívoca.
Entre autoridades que representam a ilha no evento estão o presidente da Federação Cubana de Boxe, Alberto Puig de la Barca, e o embaixador cubano no México, Dagoberto Rodríguez Barrera.
"É um momento especial estar aqui [no México] para ver que nossa entrada na Série Mundial foi concretizada", festejou Puig. "Não poderíamos ter sonhado com um melhor evento para iniciar nossa volta ao terreno profissional. É um evento histórico."
"Estou orgulhoso por ser o presidente que resgatou Cuba para o boxe profissional", disse, entusiasmado, o presidente da Aiba, CK Wu. "Esse evento será um marco para a Aiba, para a Liga Mundial e para o boxe como um todo."
Wu, de Taiwan, é candidato na eleição à presidência do COI (Comitê Olímpico Internacional), mês que vem, em Buenos Aires. Colherá dividendos pelo impacto político por recuperar cubanos para o esporte profissional.
Ele também foi o responsável por resgatar um esporte que estava praticamente com os dias contados em Olimpíadas por conta de escândalos ligados a corrupção e decisões polêmicas. Após assumir a associação, a fez ascender em ordem de importância econômica entre as modalidades que fazem parte do programa olímpico do COI.
A entrada de Cuba na liga deve diminuir um problema recorrente do país nos últimos anos: a deserção de estrelas cubanas do amadorismo para passar ao profissionalismo. Foi assim com Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux, que tentaram fuga durante o Pan de 2007, no Rio.
Capturados e enviados de volta a Cuba, fugiram depois para os EUA. Já conquistaram seus cinturões profissionais.
Por conta do alto número de deserções, a ilha caribenha boicotou o Mundial amador de Chicago, em 2007.
PAÍS DE BOXEADORES
Era uma tradição cubana --até o ditador Fidel Castro proibir o boxe profissional em 1962, após a revolução cubana-- produzir boxeadores profissionais de qualidade: Kid Gavilan, José Napoles, Kid Paret, Nino Valdez e Kid Chocolate. Este último, que experimentara todo tipo de luxo na sua carreira nos EUA, morreu paupérrimo em Cuba.
Um passo da Aiba para incentivar a entrada de astros olímpicos no profissionalismo é a nova regra que per- mitirá a participação de boxeadores profissionais em Olimpíada a partir dos Jogos do Rio em 2016.
Mas só atletas que participarem da liga profissional ou semiprofissional da Aiba terão o benefício de competir em Olimpíada. Outras entidades do boxe profissional, como o Conselho Mundial de Boxe e a Federação Internacional de Boxe e empresários, como Don King, têm levantado acusações de monopólio.