Folha de S.Paulo

Análise

A força dos jogadores é maior do que se pensava

Com algum atraso, o futebol brasileiro viveu seu junho de 2013. Primeiro, os técnicos criaram uma entidade para lutar por estabilidade e mais respeito aos contratos.

Logo depois, um grupo de dirigentes e ex-jogadores sul-americanos ensaiou uma oposição à Conmebol.

Por fim, atletas em atividade, consagrados, dos principais times do país, se insurgiram contra o calendário da CBF para 2014. Só o último movimento vingou.

Enquanto treinadores continuam sendo demitidos e a Conmebol ignora a gritaria dos "rebeldes", os jogadores já têm algo a celebrar.

Menos de uma semana depois de lançado o Bom Senso F.C., federações estaduais e Globo anunciaram mudanças na agenda do futebol brasileiro para o ano que vem.

Os principais estaduais do país tiveram seu início adiado em uma semana, para 19 de janeiro. Em 2015, a Globo já avisou: esses torneios só devem começar em fevereiro.

O movimento também teve a bênção discreta de Luiz Felipe Scolari. O técnico não teve problema em chamar cinco dos signatários do manifesto para os dois próximos amistosos da seleção.

Ao avisar que não convocou mais de um jogador por clube (exceção ao Atlético-MG) "para não prejudicar o Campeonato Brasileiro", Felipão deu seu jeito diplomático de reclamar do calendário.

Tudo isso aconteceu antes mesmo de os jogadores se reunirem para confeccionar a pauta de reivindicações que será entregue à CBF --o encontro está marcado para amanhã, em São Paulo.

Por enquanto, só as federações estaduais foram afetadas: perderam datas, o que significa perder dinheiro.

Falta interromper os torneios nacionais durante as datas-Fifa, para que as seleções não mais desfalquem os times e irritem os torcedores.

Falta ainda encontrar soluções para os times pequenos e a multidão de atletas que só têm o que fazer até maio. Falta falar sobre os gramados, por exemplo. Falta muito mais.

Mas a semana passada deixou uma lição importante a quem lida com futebol no Brasil: os jogadores têm mais força do que se pensava.