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Fábio Seixas
Ah, se eu fosse alemão...
Sucesso de Vettel na F-1 não aconteceu por acaso; tem explicações bem simples e concretas
"Houve mais três dias de testes, com um total de 18 pilotos indo à pista --entre eles Pizzonia, Zonta, Kanaan e Di Grassi, o que já valeria outra coluna."
Valeria. Vale. A desta semana pega carona num trecho da semana passada.
O tema na última sexta-feira foi Vettel. Em Suzuka, após vencer pela nona vez no ano, o alemão confessou que se borrou todo na primeira vez em que pilotou um F-1.
Foi em Jerez, em 27 de setembro de 2005, com uma Williams --um oferecimento da BMW.
Vettel era só mais um piloto premiado com um teste, após o título de estreante do ano na F-3 europeia. Os brasileiros, todos eles, eram àquela altura mais gabaritados para uma vaga na F-1.
Oito anos depois, aquele moleque é tetracampeão mundial --alguém duvida?
Nenhum dos brasileiros se firmou por lá.
Zonta foi o que mais teve chances. Passou por BAR, Jordan e Toyota. Disputou 36 GPs, conseguiu três sextos lugares e só. Hoje, está na Stock.
Pizzonia fez 20 GPs por Jaguar e Williams. Foi sétimo colocado quatro vezes. Neste ano, fez uma prova no Mundial de Endurance e cinco na GrandAm.
Di Grassi, terceiro na F-3 naquele ano, atrás de Hamilton e Sutil e duas posições à frente de Vettel, só chegaria à F-1 em 2010. Correu 18 GPs por Virgin, seu melhor resultado foi um 14º lugar.
Kanaan já tinha 30 anos e um título na Indy quando pilotou um F-1 pela primeira --e até hoje única-- vez. É claro que ainda sonhava com a categoria. Mas aquele dia com a BAR não passou de um prêmio pelos serviços prestados à Honda nos EUA. Dias depois, ele estava de volta à rotina, correndo no superoval de Fontana.
Por que Vettel virou o que virou e os brasileiros, não só estes, mas todos os que passaram por lá, não emplacaram?
Há algumas respostas.
A primeira está no alemão. Ele é um fenômeno. Não dá para culpar os outros.
A segunda está no lado brasileiro. Reflexo direto da leniência da Confederação Brasileira de Automobilismo, cada ano menos pilotos brasileiros chegam à Europa para correr de alguma coisa. Poucos conseguem ficar por lá. E os raríssimos que passam pelo funil da F-1 não têm patrocinadores que os banquem por mais de uma temporada --quem não é fenômeno precisa ao menos de alguma estabilidade para mostrar que merece estar ali.
Pizzonia, Zonta, Kanaan e Di Grassi assistirão ao quarto título de Vettel pela televisão. E terão toda a razão de pensar: "Ah, se eu fosse alemão..."
(Isso vale também como exercício para todos aqueles que acham que o domínio de Vettel está chato.)