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Tostão

Flertar com o desconhecido

O sonho dos treinadores é fazer do futebol um jogo técnico, tático, racional e previsível; não vão conseguir

A presença, na Liga dos Campeões, de três treinadores sul-americanos, os argentinos Tata Martino e Diego Simeone e o chileno Manuel Pellegrini, nos comandos de três grandes equipes, Barcelona, Atlético de Madrid e Manchester City, reacende a discussão sobre a razão de não ter treinadores brasileiros na fase de grupos desta competição.

A justificativa de que os treinadores brasileiros não vão para a Europa porque ganham tanto ou mais no Brasil é conversa fiada. Não vão porque não são convidados.

Há vários motivos. Persiste no imaginário dos europeus, desde os anos 1960, o conceito de que as glórias do futebol brasileiro foram somente por causa de seus craques. Não é bem assim. Estive na Copa de 1970 e vi como Zagallo foi importante. O mesmo ocorreu com outros técnicos vitoriosos.

Outra razão é a língua. Dizem que Felipão falava, mas não dominava o inglês quando foi técnico do Chelsea. Além disso, ele possui uma linguagem própria, que é maior que as palavras, a dos gestos e das frases espontâneas e singulares. Felipão fala com o corpo. Isso é raro entre os técnicos ingleses. Não existe portunhol correto, mas o de Luxemburgo era péssimo quando dirigiu o Real Madrid.

Incrível foi Guardiola aprender alemão tão rápido. Provavelmente, quando anunciou que ficaria um ano sem trabalhar, ele já tinha sido contratado pelo Bayern. Mesmo assim, foi muito pouco tempo.

Existem técnicos bons e ruins, no Brasil e em todo o mundo. Nos últimos dez a 15 anos, o futebol que se jogou no Brasil ficou ultrapassado, por causa dos péssimos gramados, da violência social que se espalhou nas arquibancadas e dentro de campo, da pressão que sofrem técnicos e jogadores para ganhar de qualquer jeito e também por causa dos treinadores.

As partidas passaram a ser mais truncadas, violentas, com excesso de zagueiros, volantes, chutões, jogadas aéreas e simulações. Isso começa a mudar.

Paradoxalmente, nesse horroroso período, os treinadores foram excessivamente valorizados, na vitória e na derrota, pelo que fazem e pelo que não fazem. As críticas aos técnicos, como se eles não fossem capazes de levar o time à vitória, demonstram também essa supervalorização.

Por causa da queda de qualidade e da má formação nas categorias de base, diminuiu o número de excepcionais jogadores. Mas como o Brasil é muito grande e populoso, tem muita tradição e milhares de meninos frequentam as escolinhas, sonhando em ser craques, ainda dá para se fazer uma ótima seleção, com os jogadores de fora. Apenas Fred, dos que atuam no Brasil, é titular.

O sonho dos treinadores é transformar o futebol em um jogo essencialmente técnico, tático, racional e previsível, em que tudo possa ser treinado e repetido durante a partida. Não vão conseguir. O futebol se nutre da ciência, mas convive e flerta com o desconhecido.


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