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Paulo Vinícius Coelho
Lições do Mundial
Anormal não é o futebol brasileiro sofrer contra os europeus; é virar freguês dos africanos
Nos últimos quatro anos, o futebol brasileiro viveu quatro situações distintas no Mundial de Clubes. O Corinthians venceu o Chelsea, o Inter e o Atlético-MG passaram vexame contra os africanos do Mazembe e do Raja, e decretou-se o fim dos tempos quando o Santos levou 4 x 0 do Barcelona.
Apesar do susto, o massacre do Barça foi mais normal do que os 3 x 1 do Raja.
Nos duelos de clubes, os sul-americanos são táticos e retrancados contra os europeus, donos da técnica e da habilidade. Antigamente, era o contrário.
O abismo econômico é a causa dessa mudança. O Bayern contrata e pode escalar 11 jogadores de sete seleções nacionais diferentes. O Atlético levou ao Marrocos sete jogadores com passagens pela seleção brasileira, mas nenhum titular. Jô, Réver e Victor disputam vagas entre os reservas.
Anormal não é sofrer contra os europeus. É virar freguês dos africanos.
Desde a criação do Mundial, times do Brasil e da África enfrentaram-se cinco vezes. Os brasileiros perderam duas e ganharam apertado três vezes. O Corinthians ganhou do Raja em 2000. O Al Ahly do Egito perdeu do Corinthians em 2012 e do Inter em 2006.
Assim que o Raja marcou o terceiro gol contra o Atlético, o técnico de um grande clube me telefonou. "O Brasil está jogando futebol de rua e por isso perde dos africanos!" Há um exagero. Se os clubes do Brasil jogam futebol de rua, o que dizer dos argentinos, que não vencem a Libertadores há quatro anos? Desde que o Estudiantes ganhou do Cruzeiro em 20009, o Boca Juniors foi o único argentino finalista da Libertadores --perdeu do Corinthians em 2012.
No passado, os clubes brasileiros sofriam na Libertadores e venciam europeus e africanos em excursões internacionais. Nos últimos 20 anos, o intercâmbio se dá apenas contra os sul-americanos. Criou-se o chavão: "Libertadores é diferente, amigo..."
Vale catimba, chutão, gol de canela para ganhar de argentinos, uruguaios, equatorianos... A malícia boa, com a bola no pé, é a única arma para abrir espaço nas defesas fechadas da África e jogar de igual para igual contra times da Europa.
Como lembrar disso, se só há partidas uma vez por ano contra europeus --e só se passar pelo africano? "Não dá mais para jogar estaduais", decretou o treinador da Série A.
Perder meio ano contra rivais semi-amadores atrasa mesmo. Bom senso é ter espaço para o Brasileirão com tempo para treinar, datas para disputar a Libertadores e também para excursões internacionais.
O futebol brasileiro não morreu nos 4 x 0 do Barcelona sobre o Santos, nem voltou à vida quando o Corinthians venceu o Chelsea ou quando a seleção ganhou da Espanha. O diagnóstico exagerado mata o doente. O remédio tardio também está matando.