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Xico Sá

"E o Timão, doutor?"

Sempre me pego em um papo com Sócrates sobre o futebol brasileiro; ele se foi, mas a prosa continua

Amigo torcedor, amigo secador, sempre me pego em um papo com o doutor Sócrates sobre o teatro do absurdo que é o futebol brasileiro. Ele se foi, mas a prosa continua, naturalmente. Meio mesa de bar, meio "Cartão Verde". Que diálogos de Platão que nada, bom mesmo são os diálogos socráticos e dionisíacos, se liga, mano.

O garçom Rogério, da Mercearia São Pedro, nos traz uma gelada e a primeira pauta: "E o Timão, doutor?" No que o eterno camisa 8 tira onda, reforçando o sotaque caipira: "Bora falar de muié' que é mais negócio".

Aí eu vi vantagem. Também prefiro, doutor. Muito melhor que a crise do Corinthians. Crise, que crise? A diretoria prefere chamar de fase de reformulação. Ih, tucanaram o vexame, diria o confrade José Simão.

Para melhorar o ambiente, a torcida treta em um bíblico Caim x Abel dos manos uniformizados com os manos em trajes civis.

Bora falar de mulher. Repare que brotinho, doutor. Sim, a de vestido colorido. Claro que conheço. Não biblicamente falando. É a Tainá, uma carioca que resgata, em todos os sentidos, a condição de "ser brotinho" como na crônica homônima do botafoguense Paulo Mendes Campos. Uma carioca corintiana, doutor, que provoca "olas" de testosterona no "túmulo do samba".

"E esse troca-troca, doutor, do Pato pelo Jadson?", intervém o garçom França, são-paulino do Piauí. O doutor sacaneia: "Disso eu não entendo, sou anarfabeto', Francinha. O escriba Marçal Aquino aponta com os beiços, sem gastar nem sequer um vocábulo, outra musa da taverna da vila.

O doutor só repete a pilhéria cujo alvo é este cronista da nação Cariri. Um cara pergunta a um cearense: gosta de mulher? Ele responde: gosto. Nova pergunta: E de farinha? O cearense se empolga: Vixeee!

A mulher da calça vermelha, um clássico erótico do bar, passa no meio do nosso corredor polonês. Suspendemos a respiração. Marquinhos, santista, larga o caixa e provoca: "Viu o novo Di Stéfano, doutor?". Refere-se, obviamente, ao menino da vila Stéfano Yuri, que debutou contra o Linense com o gol que a estrela Leandro Damião não fez. O doutor repete o mantra da noite: "Bora falar de muié!"

Agora falando sério, mas sem ser chato, o ambiente é de boteco, não de "Manhattan Connection". O cara da Democracia Corinthiana vibra com os cidadãos instigados do Bom Senso FC. Com ou sem greve agora, o debate ficou interessantíssimo. Há pouco era tudo na base do "sim senhor", da cabeça baixa, do "time está unido". A conversa agora é outra.

E, para variar, me despeço cantando aquela do Sérgio Bittencourt, doutor, também regravada pelo nosso amigo Otto: "Naquela mesa ele sentava sempre / E me dizia sempre, o que é viver melhor / Naquela mesa ele contava histórias / Que hoje na memória eu guardo e sei de cor".


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